30 outubro 2015

À mulher de César não basta parecer séria… (Artigo no Correio do Sul - Angola)


«O Correio do Sul solicitou a opinião de um analista independente luso-angolano do Centro de Estudos Internacionais do Instituto Universitário de Lisboa, Eugénio Costa Almeida. Na curta analise enviada à nossa redacção, o académico considera que “coincidências destas”, entre a oferta das viaturas e a recandidatura de Samakuva, levam o Povo a estranhar. Até porque, se não queremos ser vistos como tal, não devemos vestir as mesmas roupas sob pena de sermos apontados como iguais àqueles que criticamos.»

Podem ler o artigo competo aqui!

Publicado hoje no semanário (angolano, da província de Benguela) Correio do Sul, edição nº 2, de hoje!

15 outubro 2015

Quando as coincidências são demais… (é só um conto)

Tudo o que se passa num país que deu o nome a uma das mais sinistras prisões dos Estados Unidos e onde estarão alguns dos mais perversos prisioneiros – ou considerados como tais – fez-me recordar um livro de Irving Wallace – O Documento R – sobre as coincidências de factos que, de tanto repetidos, deixam de poder serem considerados como meras coincidências. O enredo passa nos EUA.

Uma das referidas coincidências está repetição de detenções de pessoas que, num imediato olhar, parecem nada terem a ver umas com as outras, até pelas distâncias e comportamentos sócio-económicos que as distinguem, mas que com o desenrolar do enredo se verifica que todas eles têm algo em comum: não gostam de verem alguns dos seus mais elementares direitos serem coartados por aqueles que, à partida, deveriam ser os garantes da preservação desses direitos.

Outra das coincidências surge com o facto dos detidos ou perseguidos serem leitores de livros que, certas autoridades – e à revelia e desconhecimento efectivo das principais autoridades, como se verifica nos últimos capítulos – consideram serem demasiado progressistas ou incentivadores de condutas que possam pôr em causa o status quo vigente.

Ora o que os mentores dessas perseguições e detenções concebem é criar uma imagem dos visados, para a opinião pública, que o que eles pretendem é desvirtuar a bondade do sistema tentando provocar, com isso, uma crise política, social e, principalmente, institucional.

De acordo com os tais mentores a solução passaria por alterar as normas em vigor, sejam políticas ou judiciais a fim de criar uma qualquer emergência nacional através de “(…) fazer algo pelo povo que ele não pode fazer por si mesmo. Dar segurança às suas vidas. (…) poremos em execução todas as nossas prorrogativas legais ao abrigo da emenda [seria uma 35ª emenda à constituição dos EUA que, após aprovada e sob a sua tutela, seria posta em execução num eventual e ehipotético caso de emergência nacional] (…) Não há uma nacional emergência efectiva. (…) {e para isso] 8…) terá de existir uma crise real… uma emergência… uma conspiração… antes de podermos actuar. (…) Mas podemos, Noah, porque teremos a nossa emergência, a nossa crise. Isso arranja-se (…)” (pág. 309). E uma das razões para emergência seria a possibilidade de “assassínio (…) do Presidente” e de eventuais conspirações “para subverter a nação”. Ora no texto surge que quando se receia um certo tipo de batalha “nos agarramos a qualquer expediente” (pág.310).

E parece que, recentemente, tem acontecido muito disto. Teoria da conspiração? Talvez.

Mas quando as coincidências são demasiadas e contínuas, quando algumas personalidades fazem uso repetitivo de certas frases para suportarem supostos factos em vigor, quando quem deveria aparecer mais vezes junto do povo raramente surge e, por vezes, delega funções em terceiros, as coincidências tornam-se ilusórias.

Recordando uma série televisiva norte-americana passada entre área castrense, uma das personagens costuma dizer – mais ou menos – que quando as coincidências são demasiadas coincidentes, deixam de ser coincidência e passam a ser, preocupantemente, reais ou verdadeiras!

Claro que isto é só uma imagem e uma ideia literária de uma certa situação que é meramente coincidente com o que se passa no livro de Wallace. Claro!

Claro que é só um conto literário, nada mais; talvez um incentivo a escrever um romance…

10 outubro 2015

A Crise humanitária no al-Bahr al-al-Abyad Mutawassiṭ, a quem imputar culpas? - artigo

"Desde há umas épocas que o al-Bahr al-al-Abyad Mutawassiṭ (nome árabe do Mar Mediterrâneo, cuja tradução literal é Mar Branco do meio ou Mar Interior) é o palco de imagens e meio de fugas marítimas de migrantes e refugiados para o continente europeu visando procurar melhores condições de vida ou salvação das suas vidas em zonas de risco económico e, ou, militar.

Quantas vezes não assistimos a imagens televisivas de magrebinos e africanos das zonas entre o Sahel e centro-africano tentarem fugir para as possessões espanholas em Marrocos, Ceuta e Melila, procurando passar por cima de muros e vedações que circulam aquelas cidades hispano-marroquinas e, através delas, chegarem ao, aquilo que para ele é, o El Dourado económico, social e, pelo menos, isento de conflitos armados.

Só que as situações pontuais que se verificavam foram substancialmente alteradas.

Primeiro na Líbia, aproveitando a onda da Primavera Árabe, devido a intervenção armada para derrubar o ditador – assuma-se o título que lhe pertencia claramente – Muammar Kadhafi (ou Khadafi, ou al-Gaddafi). Um ditador que “sustentou” alguns políticos e líderes europeus (Blair ou Sarkozy, só como exemplos). Interessante; e o resultado está à vista.

Depois de uma periclitante estabilidade política e militar pós-intervenção o país – considerado por muitos como um exemplo de estabilidade social (ainda que manufacturada e dominada pela cúria kadhafiana) – entrou numa espiral político-militar cujas consequências estão à vista de todos os que a provocaram.

Sabe-se, hoje, que a Europa pagava a Kadhafi para manter no seu país muitos dos migrantes que tentavam aceder ao Continente Europeu. Recordemos a quantidade de africanos que regressatam a alguns dos seus países bem armados e de onde emergiram grupos extremistas e jihadistas bem armados cujas actividades continuam bem evidentes: Boko Haram (Nigéria, Camarões e Chade), Al Qaeda no Magrebe Islâmico – apesar de ter sido criado em 1998, inicialmente sob o nome de Grupo Salafista para Pregação e Combate, recrudesceu com a queda do ditador líbio –, Ansar al-Sharia (Líbia e Tunísia), ou o Ansar Dine (Mali). (...)" (continuar a ler aqui)

Publicado no semanário Novo Jornal, edição 401, de 9-Out.-2015, página 20 (1º Caderno)