29 dezembro 2009

Haverá quem queira calar a investigação?

Será que ainda não compreenderam que na Academia não se cala a Investigação e que tudo deve ser dito com clareza e frontalidade mesmo que isso provoque urticária ao Poder?

Não andam alguns dos nossos dirigentes a recuperarem tempo anteriormente perdido – ou temperado – nas tarimbas da política voltando às Universidades para melhor compreenderem a vida social e política e académica?

Então como se compreende que personalidades como Fernando Macedo, Marcolino Moço e, mais recentemente, Nelson “ Bonavena” Pestana seja ostracizados em certos sectores da vida social e política só porque têm pensamentos académicos e sociais que não se enquadram nos habituais parâmetros daqueles que não gostam de ser verem contrariados.

Se os dois primeiros, ainda assim, estão a leccionar numa Universidade privada onde podem colocar o seu saber e a sua investigação ao serviço da academia já Nelson Pestana teve como prenda de Natal, o “direito” a ver a sua colaboração com o Instituto Superior João Paulo II ser colocado em causa e receber como prémio o “direito” a ir para o desemprego.

Tudo porque, segundo parece, alguns prelados, que terão visto alguns dos seus habituais e infindáveis fundos serem “congelados” pelo Vaticano que considera ser obrigação das Igrejas nacionais trabalharem para o seu próprio sustento, andam a pressionar quem “contraria” o Poder para que este não deixe de fazer cair o kumbu que lhes faz falta para a sua manutenção social.

Também a Universidade Católica onde, ainda, o Doutor Pestana (será que há muitos em Angola que possam colocar este título académico por extenso?) tem sido pressionada no sentido de prescindir dos serviços de um angolano que tem colocado as causas académicas e sociais, nomeadamente, os Direitos Humanos, a favor do desenvolvimento social de Angola.

Felizmente ainda há quem consiga manter a coluna vertical e não se submeter aos ditames dos que se submergem ao Poder e ao kumbu em contraste ao que determina as mais nobres princípios de solidariedade cristã, principalmente nesta época natalícia e de Boa Vontade.

Talvez por isso é que se vê a CEAST verberar artigos de opinião que lhe são contrários, padres católicos riscados das suas dioceses, jornalistas da Emissora Católica afastados por ordem de um qualquer poder autárquico, ou, pasme-se, haver prelados que já admitem a actual manutenção da Emissora Católica no seu “habitual” circunscrição, ou seja, só em Luanda para não se verem desfavorecidos pelo Poder.

Será que o Vaticano saberá destes factos estranhos e desta – parece, e só posso dizer parece – estranha subserviência ao Poder instituído?

Este texto está incluído na Manchete do Notícias Lusófonas, sob o título "Subserviência da Igreja ao MPLA coloca académicos no desemprego" juntamente com um artigo do jornalista Jorge Eurico.

Entretanto, soube que o Frei João Domingos, emérito reitor do Instituto Superior João Paulo II terá remetido ao portal Club-K um direito de resposta onde enumera as suas razões para a "não exuneração" mas tão-somente "dispensado de dar um dos vários cursos que ele lecciona no Instituto". Esperemos que o frei João Domingos também nos conceda mais esclarecimentos que, naturalmente, serão logo aqui colocados como mandam as regras de boa educação e sã e salutar convivência como tão bem a Madre Igreja nos apregoa...
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Igualmente citado no Zwela Angola, na rubrica "Malambas de Kamutangre"

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