20 novembro 2009

Corrupção, doença ou naturalidade?

(uma imagem daqui)


Comenta-se, e bem, sobre a queda que Angola, Guiné-Bissau e Moçambique etambém, embora pequena, Portugal e Brasil, sofreram no quadro dos Países mais corruptos do Mundo.

De acordo com o
Transparency International (TI), Angola e Guiné-Bissau estarão entre os países mais corruptos e onde se registaram as maiores quedas, estando relativamente perto da posição 180 onde está o mais corrupto de todos. Melhor estarão Moçambique, Timor-Leste e São Tomé e Príncipe – este terá subido mais de uma dezena de posições – para já não falar de Cabo Verde que mantém um rácio acima da metade, cerca de 5,1 em 10 pontos possíveis (só os menos corruptos conseguem chegar perto deste número).

Portugal e Brasil estarão perto das posições 30 e 80, sendo que o Brasil está bem atrás de Cabo verde que ocupa uma posição entre as posições 45 e 50, ou seja, muito perto de Portugal.

Por curiosidade a França está numa posição próxima do 25º país, oiu seja, entre os menos corruptos.

E falo por curiosidade na França como também em Portugal porque estes dois países por razões diversas andam nas bocas do Mundo – e ambos ligados a Angola – como países onde a corrupção parece estar bem implantada, embora, a Justiça dos dois países esteja em pouco sintonia com a transparência que os processos exigiriam.

Em Portugal, fala-se e comenta-se que 30% dos produtos de luxo vendidos pelas lojas da especialidade, leia-se, de luxo, são-no
aos angolanos. Primeiro foi a empresa de televisão SIC que o noticiou – o que levou o nosso confrade Wilson Dada, no seu “Morro da Maianga” a perguntar se seria mais uma «Campanha da SIC» no que foi hoje retomado na portuguesa RTP e no Jornal Nacional.

Isto só por si não infere que os angolanos estejam a contribuir para a corrupção em Portugal. Pelo contrário, estão a manter viva uma actividade económica que , apesar de tudo, não sofre muito com a crise internacional.

O problema é que em Portugal começam a aparecer certos sintomas de corrupção, embora ainda de
face oculta, mas onde entram pessoas próximas do Estado, com conversas gravadas e escutadas junto de personalidade do Governo, e de empresas, algumas das quais com forte implantação em Angola, um dos escutados até é – ou foi – o presidente de uma instituição financeira que também está estabelecida em Angola, embora já tenha capitais angolanos, tal como em Portugal; mas só o era da parte estabelecida em Angola, ressalve-se... a parte portuguesa, teoricamente privada, tem mostrado que pertence ao Estado português, via CGD…

E Portugal está numa posição relativamente segura entre os menos corruptos. Olha se não estivesse…

Já a França, claramente melhor posicionada que Portugal entre os menos corruptos parece que vive no mesmo lodaçal. Só que há quem consiga ter um Estado mais blindado e por isso passa menos para a opinião pública os escândalos que norteiam os Champs Élysées. Mas quando os amigos se zangam ai que vem tudo ao de cima.

Todos se recordam, por certo, do processo Angolagate e das condenações que houveram e daquelas que morreram para não “ofender” relações políticas e económicas. Só que houve quem parece que não gostou de ser condenado e ver outros a cirandarem pelos Campos Elísios alegres e felizes.

De acordo com
Charles Pasqua o antigo ministro do interior e ex-candidato às presidenciais francesas, um dos condenados, os serviços secretos franceses (DGSE) teriam dado conta ao Estado francês e a algumas das suas mais altas individualidades das negociatas com as armas para Angola.

Ou seja, os amigos nem sempre são para as ocasiões. Mas o que mais ressalva nesta questão é que não vale a pena mandar pedras aos vizinhos quando se têm vidros tão finos ou paredes tão elásticas.

Condenemos, e bem e fortemente, a corrupção. Mas olhemos com olhos de ver para todos. É que na lista da TI que merece uma ponderação bem vincada há países que parecem ser o que não o são na realidade ou seja se mantém atractivamente apelativos como locais aprazíveis de se viver em liberdade e sem corrupção.

Recordemos que Portugal até Outubro de 2005 ou 2006, isto é, até uma declaração do presidente português Cavaco Silva parecia desconhecer a palavra “corrupção”. Só conhecia “a cunha”, “os esquemas” e “os favores”. Agora parece que dia si, dia sim, aí está mais um caso…

Será que a corrupção deixou de ser uma doença na sociedade para ser um acto natural?
Reproduzido, posteriormente, no portal , na coluna "Malambas de Kamutangre", em 23/Nov./2009

1 comentário:

Calcinhas de Luanda disse...

A França é um país que manobra muito bem na cena internacional. Embora seja considerado pouco corrupto internamente, é o País com a mais forte estratégia neo-colonialista. Das antigas potências coloniais é aquela que melhor controla as suas ex-colónias. As suas relações com Angola nomeadamente na questão do comércio de armas demonstra bem o seu "modus operandi".
Em termos de hipocrisia política e diplomática os franceses são imbatíveis!