15 junho 2009

Luanda, a capital mais cara… qual a surpresa?

A comunicação social angolana – e alguns blogues – estão a lamentar que Luanda continue a ser, pelo segundo ano consecutivo, a cidade-capital mais cara do Mundo.

Não vejo onde esteja a surpresa.

Como sabem, estive cerca de 10 dias em Angola – e não só em Luanda – onde pude constatar que os preços estão elevados e não são só na capital.

Por exemplo, uma garrafa de água “engarrafada”, num bar ou num restaurante, varia entre os 600 e 800 Kwanzas (AKZ), se for de 1,5 litros, ou anda pelos 250 AKZ, se for de 33 cl. Se fizermos as contas verificaremos que uma garrafa de água de 1,5 litros custa qualquer coisa entre os 7,69 e os 10,25 US Dólares (ao câmbio oficial, porque no câmbio paralelo, felizmente, estariam entre os 6,74 e os 8,99 USD) e uma de 33 cl cerca de 3,21 USD).

Por outro lado uma refeição decente e não complexa anda entre os 8.000 e os 12.000 AKZ (ou seja, qualquer coisa como valores entre 102 USD e os 153 USD) e um café perto dos 100 AKZ como eu paguei num dos aeroportos nacionais onde passei... e ainda por cima era Delta (passe a publicidade, uma empresa portuguesa…).

É cara? Não me parece.

Se fosse o Governo, por certo, já teria tomado providências para acabar com a especulação que se regista.

E atenção que estou a falar de restaurantes e não de minis ou supermercados. Por esses não contam para o Turismo algo que qualquer Governo actual e moderno privilegiaria, principalmente quando estamos em vésperas do maior evento desportivo realizado em Angola, o CAN 2010, e que, naturalmente, poderia atrair inúmeros turistas, alguns até de preparação para o Mundial que ir-se-á realizar na África do Sul no mesmo ano.

Um Governo preocupado com a imagem do País e não só se o petróleo e os diamantes sobem ou não, procuraria e tomaria, por certo, medidas para acabar com a especulação, não só imobiliária como alimentar.

Mas parece que o nosso governo ainda não percebeu bem quais as vantagens da defesa do Turismo e como deve combater não só a especulação como a presença de parasitas que querem obter divisas e dinheiros à custa de eventuais turistas, mesmo que para isso, procurem insultar a inteligência destes denegrindo imagem das autoridades. E eu sei do que falo porque isso se passou comigo (ouvi alguém a dizer que a Polícia de Trânsito não interessava para certos assuntos, só a Polícia Nacional, aquela que estava perto, se ouviu nada fez para mostrar a sua autoridade, mas quando me dirigi a militares da marinha, ali perto, o meliante que me seguia para extorquir dinheiro e documentos desapareceu num ápice…).

Por outro lado quando um turista, e pondo-me nesse papel, deseja visitar museus ou fundações e constata que as mesmas ou estão fechadas – e aos fins-de-semana os museus estão mesmo fechados quando seria a altura melhor para a população poder visitá-los e sei que está um pedido nesse sentido quer no GPL quer no Ministério da Cultura mas ainda sem despacho – ou dão mostras de inoperacionalidade não há turismo que aguente.

Isto para não falar no caos do trânsito – apesar de tudo surpreende, felizmente, como há tão poucos acidentes, como pude constatar – ou a falta de energia que obriga o País gastar recursos desnecessários em geradores complementares alimentados a gasóleo que ainda é refinado fora do País – para quando uma política energética mais verde e quase gratuita quando temos tanto sol, ou vento, e durante tanto tempo num ano? – ou o desordenamento das cidades – embora pareça que começa a haver vontade de melhorar este parâmetro, mas para isso é necessária vontade férrea do Governo em tomar medidas impopulares e politicamente não correctas como obrigar aqueles que não têm condições para estar nas cidades voltarem aos seus lugares de origem onde, por certo, poderão fazer mais pelo País que vegetar pelas ruas da amargura como infelizmente também pude verificar – mas isto, reconheça-se há em todas as grandes cidades do Mundo.

São factos que não abonam a favor de um desenvolvimento turístico do País – e se o País tem inúmeras condições para desenvolver esta indústria (praias, parques nacionais, paisagens e, acima de tudo, um Povo aberto e pronto ao contacto) – e que deveriam merecer uma melhor análise do governo.

Por isso, não continuemos a lamentar que Luanda seja a capital mais cara do Mundo!

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