31 dezembro 2009

Os mais e os menos de 2009 (em Angola)

"Como habitualmente os órgãos de comunicação social fazem uma análise ao ano que finda e ponderam quem, na sua concepção, foram as figuras que como maior ou menos relevo evidenciaram, positiva ou negativamente, ao longo do ano em análise. O Semanário Angolense que também não fugiu a essa escalpelização vai permitir-me utilizá-lo, em parte, para as minhas meditações de fim-de-ano.

Para o semanário angolano SA a grande figura de 2009 terá sido o Professor, economista e analista político Justino Pinto de Andrade, um dos obreiros da extinta FpD e que quem mais terá contribuído, juntamente com o seu colega Nelson “Bonavena” Pestana para as múltiplas denúncias sociais quer nas eleições de 2008 quer no período que continuou durante todo o presente ano.

Claramente uma boa e acertada escolha. Até porque como escreve o SA se há “se há cidadãos que estejam a contribuir para que Angola seja efectivamente um país bom para se viver, Justino Pinto de Andrade, a seu modo, é certamente um deles.”

Todavia não posso concordar com todos aqueles com que o SA aponta como vencedores. Se Isabel dos Santos é, sem sombra de dúvidas uma das maiores figuras angolanas, pelo menos a nível económico é quem mais tem contribuído para suserar o Estado e a economia portuguesa a Angola – como alguém escreveu e muito bem, Isabel dos Santos é a gestora mais empreendedora e mais forte da economia portuguesa – já não concordo em colocar Eduardo dos Santos, o presidente de Angola em exercício, como uma figura vencedora de 2009.

Poderia ter sido, de facto, talvez a grande figura política do ano se tivesse cumprido com as suas promessas eleitorais, nomeadamente minorar – acabar em tão pouco tempo é sempre difícil para não dizer impossível – a corrupção no País, convocar as eleições para este ano como era previsível, e aceitar que o seu tempo de presidenciável credível já terá terminado devendo dar lugar a outros e salvaguardar-se como uma espécie de “reserva moral da Nação” face a tantos e tão indistintos tubarões que gravitam subservientemente à procura de mais-valias pessoais.

Não o fez e, mais grave, admitiu que não só deverá ir a eleições presidenciais como deixou implícitas que, as mesmas caso seja aprovada a matriz constitucional apresentada pelo MPLA, só haverá eleições em 2012 juntamente com as Legislativas desse ano.

Daí que para mim, Eduardo dos Santos foi uma figura que não soube resguardar-se e, por esse facto, acabou entre os vencidos do ano. (...)
" (continuar a ler aqui ou aqui)
Publicado como Manchete do , de 31.Dez.2009
... E FELIZ ANO NOVO!

29 dezembro 2009

Haverá quem queira calar a investigação?

Será que ainda não compreenderam que na Academia não se cala a Investigação e que tudo deve ser dito com clareza e frontalidade mesmo que isso provoque urticária ao Poder?

Não andam alguns dos nossos dirigentes a recuperarem tempo anteriormente perdido – ou temperado – nas tarimbas da política voltando às Universidades para melhor compreenderem a vida social e política e académica?

Então como se compreende que personalidades como Fernando Macedo, Marcolino Moço e, mais recentemente, Nelson “ Bonavena” Pestana seja ostracizados em certos sectores da vida social e política só porque têm pensamentos académicos e sociais que não se enquadram nos habituais parâmetros daqueles que não gostam de ser verem contrariados.

Se os dois primeiros, ainda assim, estão a leccionar numa Universidade privada onde podem colocar o seu saber e a sua investigação ao serviço da academia já Nelson Pestana teve como prenda de Natal, o “direito” a ver a sua colaboração com o Instituto Superior João Paulo II ser colocado em causa e receber como prémio o “direito” a ir para o desemprego.

Tudo porque, segundo parece, alguns prelados, que terão visto alguns dos seus habituais e infindáveis fundos serem “congelados” pelo Vaticano que considera ser obrigação das Igrejas nacionais trabalharem para o seu próprio sustento, andam a pressionar quem “contraria” o Poder para que este não deixe de fazer cair o kumbu que lhes faz falta para a sua manutenção social.

Também a Universidade Católica onde, ainda, o Doutor Pestana (será que há muitos em Angola que possam colocar este título académico por extenso?) tem sido pressionada no sentido de prescindir dos serviços de um angolano que tem colocado as causas académicas e sociais, nomeadamente, os Direitos Humanos, a favor do desenvolvimento social de Angola.

Felizmente ainda há quem consiga manter a coluna vertical e não se submeter aos ditames dos que se submergem ao Poder e ao kumbu em contraste ao que determina as mais nobres princípios de solidariedade cristã, principalmente nesta época natalícia e de Boa Vontade.

Talvez por isso é que se vê a CEAST verberar artigos de opinião que lhe são contrários, padres católicos riscados das suas dioceses, jornalistas da Emissora Católica afastados por ordem de um qualquer poder autárquico, ou, pasme-se, haver prelados que já admitem a actual manutenção da Emissora Católica no seu “habitual” circunscrição, ou seja, só em Luanda para não se verem desfavorecidos pelo Poder.

Será que o Vaticano saberá destes factos estranhos e desta – parece, e só posso dizer parece – estranha subserviência ao Poder instituído?

Este texto está incluído na Manchete do Notícias Lusófonas, sob o título "Subserviência da Igreja ao MPLA coloca académicos no desemprego" juntamente com um artigo do jornalista Jorge Eurico.

Entretanto, soube que o Frei João Domingos, emérito reitor do Instituto Superior João Paulo II terá remetido ao portal Club-K um direito de resposta onde enumera as suas razões para a "não exuneração" mas tão-somente "dispensado de dar um dos vários cursos que ele lecciona no Instituto". Esperemos que o frei João Domingos também nos conceda mais esclarecimentos que, naturalmente, serão logo aqui colocados como mandam as regras de boa educação e sã e salutar convivência como tão bem a Madre Igreja nos apregoa...
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Igualmente citado no Zwela Angola, na rubrica "Malambas de Kamutangre"

Paulo Kassoma em maré de inaugurações

Duas infra-estruturas aeroportuárias foram hoje inauguradas pelo premiê Paulo Kassoma. Uma foi em Catumbela (Benguela) e outra no Lubango (Huíla). Ambas devido aos compromissos com o CAN2010.


(Parte da área militar e a nova aerogare de Catumbela)
O aeroporto de Catumbela, na prática um importante aeroporto militar (conforme foto chapada em Maio passado) “convertido” em aeroporto civil devido à quase completa desactivação dos aeroportos domésticos do Lobito e de Benguela, na província de Benguela, viu ser hoje inaugurada as novas instalações de apoio ao movimento de passageiros – a nova aerogare – e constatou as melhorias que a pista e a placa sofreram onde poderão aterrar aviões do tipo 737.
o aeroporto do Lubango, o primeiro internacional a ser construído de raiz desde a independência, foi também hoje inaugurado (foto Jornal de Angola).

O aeroporto internacional de Mukanka, assim se chama o novo aeroporto, está preparado para voos nocturnos e para receber aviões de grande porte, nomeadamente, os de longo curso, os 777 ou os velhinhos 747 além de estar preparado para receber cerca de 500 mil passageiros/ano.

Depois das novas instalações aeroportuárias do internacional 4 de Fevereiro, Luanda, ter sido ontem mostrado ao público pelo presidente Eduardo dos Santos agora foram os das províncias de Benguela e Lubango.

De notar que os aeroportos de Cabinda e Huambo também sofreram remodelações recentemente.

Entretanto, e para que o dia não acabasse só no aeroporto, Paulo Kassoma inaugurou, igualmente, o novo estádio nacional da Tundavala, no Lubango, que servirá de sede ao grupo D, onde medirão forças as selecções dos Camarões, Gabão, Zâmbia e Tunísia (foto ANGOP).

Há que aproveitar o momento antes da eventual e já quase anunciada
remodelação governamental

Que se passa com Nelson “Bonavena” Pestana?

(imagem Club-k)

Fontes descrevem que Bonavena, reconhecido académico angolano que tem pautado por defender, como poucos, os Direitos Sociais e Humanos em Angola, terá tido como antecipada prenda de Natal o despedimento do Instituto Superior João Paulo II, onde leccionava há já uns anos.

Segundo as respectivas fontes (ver
aqui e aqui) Bonavena estaria a pisar demasiados calos a certas personalidades que fizeram sentir isso mesmo a um determinado sector da Igreja Católica luandense.

Porque quero acreditar que a Igreja Católica angolana, que sempre pautou pela independência face ao poder instituído – e aos diferentes poderes – não esteja agora em ocasião de subserviência económica em parte resultante das directrizes de Bento XVI que impôs que as igrejas nacionais se auto-financiem por elas próprias…

Vamos aguardar pelas notícias que, por certo, Nelson "Bonavena" Pestana não coibirá de fazer sair da sua proverbial e activa pena.

28 dezembro 2009

Estádio de Ombaka já está inaugurado...

(imagem de arquivo / CAN2010)
Depois de ontem o Presidente Eduardo dos Santos ter inaugurado, em Luanda, o Estádio 11 de Novembro, onde irão ocorrer as cerimónias de abertura e encerramento do da Taça das Nações “Orange-Angola 2010”, esta manhã o primeiro-ministro, António Paulo Kassoma, inaugurou o Estádio Nacional de Ombaka, na província de Benguela, que servirá de sede da poule c, onde irão medir forças as selecções do Egipto, Moçambique, Nigéria e Benin.

Na inauguração houve o habitual descerrar da placa comemorativa e identificadora do estádio, seguindo-se a bênção da igreja católica.

O Estádio Nacional de Ombaka tem capacidade para 35 mil espectadores, sendo o segundo maior recinto desportivo construído para a Taça de África das Nações em futebol, depois do 11 de Novembro, projectado para receber 50 mil espectadores. Ocupa uma área de 41 mil e 500 metros quadrados, tem cerca de 40 metros de altura máxima e um relvado com 68 metros de largura e 105 de comprimento.

O estádio que se situa no bairro Nossa Senhora da Graça, a cinco quilómetros a Nordeste da cidade de Benguela, na estrada Nacional 100 que liga Lobito a Benguela, apresenta uma cobertura metálica com cerca de 29 metros de comprimento, possui 256 lugares para personalidades VIP’s, 68 lugares para deficientes físicos, dispõe. Ainda. de quatro entradas para veículos de carga, além de um parque de estacionamento para 3.365 viaturas e 537 autocarros.

O imponente estádio comporta salas para entidades VIP, recepção, reuniões, transmissão de TV e rádio, repórteres fotográficos, descanso para atletas e árbitros, treino e ginásio, equipamento, ventilação e máquinas, escritórios e gabinetes, centros de imprensa e de comércio.

Também complementam a estrutura desse gigante de betão centros de controlo de fogo, enfermaria, posto de controlo geral, sala de conferência de imprensa, vestiários.

(artigo publicado, inicialmente, no Notícias Lusófonas “Desporto”)

23 dezembro 2009

Bom Natal num Dia Feliz de Família

Uma música eterna para um período eternamente cada vez mais comercial e menos de ponderação ou de Paz...

O que se passa na Diocese de Cabinda?

(Igreja Matriz de Cabinda, Cabinda, foto da Internet)


Periodicamente chegam aos nossos endereços electrónicos vozes e factos que parecem desacreditar a Igreja Católica, nomeadamente, na Igreja sedeada na província mais setentrional de Angola, Cabinda.

Desde a tomada de posse do actual Bispo de Cabinda, D. Filomeno Vieira Dias, que as críticas à actuação administrativa deste Prelado têm sido muito contundentes.

Não sei, porque não estou em Cabinda, se são reais ou meramente virtuais. Reconheço que quando lá estive em Maio ouvi críticas e aplausos à actuação do Bispo de Cabinda.

Ainda assim, e pelo menos no éter netiano, são mais as vozes que o criticam que as que o aplaudem.

A última prende-se com a suspensão do padre Raul Tati, em grande parte, segundo se constas devido à sua cruzada pela defesa do clero de origem Cabinda e pelo facto de ter, várias vezes, feito sentir ao Bispo, proveniente de Luanda, de provocar uma clara e necessária reconciliação com os fiéis e sacerdotes locais, condição vista como fundamental para que D. Filomeno Vieira Dias pudesse executar em plenitude a sua função pastoral e sacerdotal.

Se recordarmos que o padre Raul Tati é visto como uma respeitada figura moral do enclave e que chegou a ocupar a função de Secretário Geral da Conferência Episcopal da Angola e São Tomé e Príncipe (CEAST) aliado ao facto de ter sido Vigário da diocese e ter ocupado o cargo de Reitor do Seminário Maior de Filosofia, bem assim ser um defensor de maior credibilidade cultural dos cabindenses e o actual Bispo de Cabinda ser próximo de algumas figuras gradas do poder em Luanda e da “Cidade Alta”, talvez que não surpreenda estas situações.

Mas, parece-me, que a Igreja Católica deve evitar pregar como Frei Tomás: “faz o que eu digo não o que ele faz…” ou seja, não basta reclamar pelos Direitos Humanos nuns sítios e fechar os olhos ou abster-se de criticar em outros.

Talvez que uma conversa franca na Igreja de Cabinda entre os que defendem a autonomia e aqueles que consideram que Cabinda é parte integrante e indissolúvel de Angola não fosse má ideia. Às vezes uma simples e franca palavra vale mais que muitos actos de rebeldia ou de repressão.

22 dezembro 2009

Feliciano “Hukalilile” Cangue em entrevista à Global Voices

O Professor-Engenheiro – só escrevo assim porque temos o Atlântico a separar-nos, dado que sei que ele não gosta destes “inócuos” formalismos muito ao gosto daqueles que fazem do título um meio de evidência, o que não se passa com ele – Feliciano Cangue, angolano que debuta entre Angola e Brasil concedeu à “Global Voices” o privilégio de ser ouvido numa interessante entrevista conduzida pela Clara Onofre.

Feliciano J. R. Cangüe é autor do blogue
Hukalilile (Don't cry for me Angola). Colaborador involuntário do Global Voices, ele é um dos muitos blogueiros que ajuda esta jornalista a escrever e a partilhar com os leitores episódios da sociedade angolana.

Feliciano é o primeiro de vários blogueiros angolanos que farão parte de uma série de entrevistas a serem publicadas no GV. Este professor e engenheiro de profissão, que divide o seu tempo entre Angola e o Brasil, respondeu às nossas perguntas sem camuflagens e rodeios.


Assim inicia Clara Onofre, a apresentação do autor de “Hukalililile – Don’t cry for me Angola”.

Cangue que tenho por “e-amigo” e “e-companheiro” e que reforçou essa condição ao colocar-me entre os três blogues angolanos formadores de opinião (os outros dois companheiros que me acolhem como tal são os jornalistas – desculpem, o lapso – Jornalistas Wilson “Dádá”, com o “
Morro da Maianga”, e Orlando Castro, com “Alto Hama”) afirma entre outros factos que o bloguismo em Angola ainda sente certo estrangulamento devido, em grande parte, ao «difícil acesso à internet ou o preço elevado dos computadores. As pessoas dão preferência às questões de sobrevivência, relegando as novas tecnologias para segundo plano» e às contingências resultantes de uma colonização nem sempre muito aberta seguida de dois períodos de forte impacto castrense que limitaram a livre a utilização do bloguismo livre e influente pelo que «é natural que a cultura de livre expressão não faça parte do nosso quotidiano».

Outra das afirmações de Cangue, e aqui creio que foi a sua veia académica que mais naturalmente se impôs, reporta-se ao momento mais marcante dos últimos 10 anos em Angola. Cangue respondeu – uma resposta que por certo mostra como nas entrelinhas se pode fazer uma crítica mordaz e objectiva – que para ele o «momento mais marcante ocorreu este neste ano de 2009 quando se anunciou a criação de seis universidades públicas que se juntarão à única existente para totalizar sete».

A mostra inequívoca que são a Cultura e a Educação que formam um País…

18 dezembro 2009

COP15: Copenhaga nos minutos finais…

Será que os jogadores ainda vão abrir, em tempo útil, o activo [assinatura de um protocolo vinculativo] ou pensam já em prolongamento [COP15Bis]?

16 dezembro 2009

COP15: a quem realmente interessa o que se debate em Copenhaga?

(alguém, hoje em dia, prescinde deste meio poluidor?)

Em Copenhaga decide-se(?!) se vai haver um “bom polícia” (cop) ou se, pelo contrário, os “ladrões” continuarão a manter a sua posição de “quero, posso e mando”, ou seja, todos poluem e a culpa morre solteira.

E porque é em Copenhaga, onde todos têm culpas nos desmandos que se fazem pelo Mundo, principalmente, na produção excessiva de dióxido de carbono, na super-utilização de recursos naturais, em particular nos hidrocarbonetos e na delapidação dos recursos hídricos e das madeiras, que comprovamos que todos estão a tentar se apresentar como polícias de um Mundo mais “verde” embora sob a hipócrita ironia das compensações financeiras.

E nisto, particularmente, a América Latina e a África, são dos mais responsáveis, embora seja certo que é o Mundo dito industrializado quem mais polui devido à sua enorme capacidade de criar produtos poluentes ou que originam poluição.

Mas também é verdade que muitos dos produtos protopoluidores são produzidos em África, na América Latina e na península arábica – petróleo – ou em África e na América Latina – destruição das florestas – sob o “auspício” dos milhões de divisas que entram (será?) nos cofres do tesouro público dos países exportadores.

Mas também recordemos que são muitos os países ditos emergentes que muito contribuem para a poluição e menor qualidade de vida desta Casa – a única que ainda é formalmente reconhecida como tal – a que chamamos Terra!

Quantos dos BRIC e dos muitos potenciais “brics” não são, hoje em dia, o local de fabrico, em grande parte devido à mão-de-obra muito mais barata e “calada”, de muito material poluidor. As vantagens fiscais e económicas que os países emergentes oferecem aos grandes empórios financeiros e industriais compensam essa deslocação. Por outro lado, os países emergentes e os em vias de desenvolvimento descobriram uma nova fonte de divisas que é a venda de parte da sua quota de CO2 aos países mais poluidores, nomeadamente, a China, os EUA, a Índia, a Austrália, a Rússia e a União Europeia.

Mas se estes são os mais poluidores é da China que vêm as maiores críticas e os maiores apelos para a contenção da emissão dos gáses de efeito de estufa, ou seja, do dióxido de carbono.

É louvável a sua preocupação com os países emergentes ou menos desenvolvidos. Só que faz-me recordar os anos 60/70 e parte dos anos 80 do século passado quando a antiga URSS provocava as manifestações anti-nuclear enquanto se reforçava seriamente nesse campo como veio comprovar – e mal, infelizmente – Chernobyl, na Ucrânia.

É interessante ver como a China, reconhecidamente a que mais contribui com cerca de 40% de emissões mundiais, segundo algumas fontes, para a deterioração do nosso meio ambiente, se perfila como o grande paladino dos mais fracos e da defesa das utópicas indemnizações pedidas pelos países africanos.

Não esqueçamos quem é o mais comprador de hidrocarbonetos do Mundo – que o digam Angola e Sudão –, quem mais rios poluídos tem dentro do seu território, ou quem mais madeiras compram e quem mais indiscriminadamente destrói matas e florestas – recordam-se disso, por certo, os moçambicanos – para o desenvolvimento das suas indústrias e imobiliário?

É interessante ver – ouvir – nos jornais televisivos a defesa que os delegados chineses fazem em nome do meio ambiente, desviando, parece, os holofotes de si e dos Direitos Humanos não cumpridos para terceiros.

Mas será que os chineses já atingiram o patamar que almejam para estar a um mesmo nível que os EUA, um Japão ou mesmo uma Rússia? Ou será que, tal como na antiga URSS, os Chineses querem que o resto do Mundo se atrase em estéreis debates enquanto eles avançam mesmo com a qualidade que todos reconhecem não ter.

Há que defender a nossa Casa! Mas devemos fazê-lo com respeito por todos os que nela coabitam. Não basta invectivar os vizinhos do lado direito, da frente, das traseiras ou do lado esquerdo exigindo mais limpeza se nós próprios não o fazemos devidamente.

Há que ter moral e recordar que o Homem não é o único condómino desta Casa nem o único com capacidade para a transformar.

Talvez tenha muita capacidade para a (má) transformação mas os outros parecem ter melhor capacidade para a adaptação. Aquela que parece fugir, cada vez mais, aos Homens que sabe viver em permanência na corda bamba como o recorda a cada passo.

Mas o Homem parece esqueceu que os animais mais depressa conseguem prever tsunamis, sismos, fogos – ou seja, alterações climáticas extremas – e procurar melhores locais de sobrevivência, que as plantas e sementes podem sobreviver durante largo tempo na escuridão e depois desabrochar esplendorosas, enquanto aquele se acomodou ao que está tendo com as consequências quase sempre muito nefastas porque parece ter perdido a verdadeira capacidade de mudar e transformar.

Pode ser que, quando os líderes dos maiores poluidores se reunirem na próxima sexta-feira, já o Mundo tenha concordado em pontuar o COP15 e não necessite de um eventual "COP15bis" como ainda antes de começar este conclave de Copenhaga o líder da ONU, Ban Ki-moon, já previa poder acontecer; pode ser que Quioto seja colocado num pedestal como recordação do que não se deve negociar e Copenhaga o princípio da recuperação física da Terra!

Essa é a minha (e, por certo, provavelmente de todos nós) esperança... e que isto nunca aconteça!
(Posteriormente publicado no portal angolano , na rubrica "Malambas de Kamutangre")

11 dezembro 2009

Qual é que vai sofrer as consequências?

"Ontem, ao fim da manhã, quando ouvi trechos do discurso do novo (actual e já kota de 30 anos de poder) líder do MPLA, em conversa com um grande amigo e jornalista Norberto Hossi, director deste portal noticioso [Notícias Lusófonas], alertei que as suas palavras – de Eduardo dos Santos, lógico – implicariam uma de duas coisas:

Ou as eleições presidenciais seriam adiadas ou o Projecto Constitucional “C” morreria à nascença.

E tudo porque Eduardo dos Santos tinha afirmado a dada altura – e cito de cor – “que o MPLA deveria dar condições para que o Governo saído das eleições de Setembro de 2008 deveria cumprir toda a legislatura” (mais coisa menos coisa, mas o sentido foi este).

Ora fazendo fé nestas palavras e sabendo que o projecto “C” próximo da versão apresentada pelo MPLA prevê que o Presidente seja o líder do Partido mais votado para a Assembleia Nacional e como nem o MPLA, nem o presidente Eduardo dos Santos e nem mesmo a Sociedade Civil veria com bons olhos umas novas eleições a tão curto prazo, só seria expectável ou o adiamento das eleições presidenciais para 2012, quando termina a actual Legislatura, ou a vontade democrática seria mais forte e o Projecto “C” deixaria de fazer sentido.

Como não me parece que o espírito democrático tenha descido tão depressa com o espírito de Natal e como não vejo o MPLA prescindir da sua força eleitoral mesmo que pareça haver uma importante contestação ao Projecto “C”, nomeadamente junto de um certo sector importante dos militares, mas também entre militantes do MPLA com quem tive o prazer e oportunidade de falar, pelas omissões importantes que o Projecto apresenta, com especial destaque para a eleição/nomeação do Vice-Presidente, tudo leva a crer que serão as eleições presidenciais que serão adiadas. (...)
" (continuar a ler aqui ou aqui)
Publicado no / Colunistas de hoje.

10 dezembro 2009

No Dia Internacional dos Direitos Humanos…

(Foto ©EFE, retirada daqui)

Que tal Marrocos dar a outra face por uma activista que recentemente recebeu nos EUA dois Prémios pelos Direitos Humanos o de “Robert F. Kennedy 2008” e o de “Civil Couraje 2009”, este outorgado pela Fundação Train.

Não é pela bondade que se perde uma face e muito menos pela destruição que se afirma a soberania.

É pela inteligência, e o Rei Mohammed VI já mostrou, bastas vezes neste seu ainda curto reinado, que sabe ser magnânimo e inteligente, que se podem vencer certos debates!

Aminatu Haidar, em greve de fome que se deseja termine rápido até para melhor defender os direitos da sua terra natal, espera por essa magnanimidade num aeroporto de Lanzarote, nas Canárias, Espanha.

E porque hoje é o aniversário da
Declaração Universal dos Direitos Humanos

09 dezembro 2009

Dia Internacional contra a Corrupção

Pelo Dia Internacional Contra a Corrupção com a devida vénia ao Cartune do Novo Jornal, edição 78, de 4 de Dezembro de 2009.



08 dezembro 2009

Em debate três propostas Constitucionais para Angola

"Já foram colocadas em debate público as 3 Propostas Constitucionais apresentadas pela Comissão Constitucional. As 3 propostas abrangem, duas delas, áreas habituais nos sistemas democráticos – presidencialismo e parlamentarismo – e uma terceira que complexa um misto de presidencialismo com parlamentarismo. Todas têm, genericamente, como base as propostas dos maiores partidos políticos angolanos”.

Comecemos pela “Projecto C”, aquela que se denomina de “Sistema Presidencialista-Parlamentar”.

Este Projecto defende no seu artigo 1º que “Angola é uma República soberana e independente baseada na dignidade da pessoa humana e na vontade do povo angolano que tem como objectivo fundamental a construção de uma sociedade livre, justa, democrática e solidária, de paz, igualdade e progresso social” acrescentando no art.º 2º que é um “…Estado Democrático de Direito, baseado na soberania popular, no primado da Constituição e da Lei, na separação de poderes e interdependência de funções, na unidade nacional, no pluralismo de expressão e de organização política e na democracia representativa e participativa”.

Nada demais que não esteja previsto em outras Constituições.

No entanto, o art.º 7, da Organização do Território, enquanto no nº 1 afirma que o território nacional é o “…historicamente definido pelos limites geográficos de Angola tais como existentes a 11 de Novembro de 1975, data da Independência Nacional.” Já o nº 2 apresenta uma adenda um pouco estranha que pode ser considerada como apologista do expansionismo territorial ao defender que “…disposto no número anterior não prejudica as adições que tenham sido ou sejam estabelecidas por tratados internacionais” (o sublinhado é nosso).

A grande diferença dos projectos seguintes é que neste projecto o Presidente tem poderes executivos e será coadjuvado por um Vice-presidente e auxiliado por Ministros e Secretários de Estado (nº 2 do art.º 99 e art.º 124) enquanto o poder legislativo será o que está regulamentado pelos arts.º 134 e seguintes (embora de forma pouco clara).

O presidente só pode fazer unicamente dois mandatos não sendo claro se são consecutivos ou intercalados (arts.º 104, nº 2 e 101 §h) não podendo se candidatar a mais nenhum.

Por outro lado tem uma capacidade enorme de vetar as Leis dimanadas da Assembleia Nacional (AN) já que quando se decidir devolver alguma para nova apreciação a NA só a pode votar desde que consiga obter 2/3 dos votos expressos (art.º 116, nºs. 2 e 3).

Resumindo esta é uma proposta um pouco confusa, embora, na prática seja em muito pontos, muito semelhante ao actual regime em vigor mas que torna mais claras e divisíveis as posições do Presidente e da AN. E, neste aspecto, difere um pouco do que se passa na actualidade pelo que não creio seja muito aceitável para o actual, e ainda, inquilino da Cidade Alta! (...)
" (continuar a ler aqui ou aqui).
Publicado no , como Manchete, de 8.Dez.2009

Pululu e os leitores: Quando Cristo voltar...

(imagens da Internet)

O texto que se segue, da moçambicana Suzete Madeira, pode – e deve – ser lido como uma metáfora dos nossos dias e, ainda e infelizmente, do Nosso Continente. Basta mudar nomes e locais para compreender bem, os lamentos de Suzete Madeira.


QUANDO CRISTO VOLTAR


Com o tempo, muitas tragédias se esquecem e a vida continua. Corridos mais de dois mil anos que Cristo clamou: “Pai está consumado”! Após os seus perseguidores terem conseguido levá-lo ao suplício, corrompendo a justiça e enganando o povo, Pôncio Pilatos juiz encarregue do julgamento tomado de medo não quis tomar sobre os seus ombros a responsabilidade de condenar um homem inocente, deixando por isso aos Judeus a liberdade de o julgar pelas presumíveis faltas de que era acusado. Como era uso e costume da lei naquela época.

Os Fariseus, Saduceus, Sacerdotes que odiavam a Cristo, que de comum acordo o combatiam, conseguiram finalmente os seus intentos criminosos: Levar Cristo ao suplício.

Buscavam um castigo que não permitisse o surgimento de novos Messias.

Iniciaram assim a sua faina traiçoeira. Ofereceram dinheiro, espalharam intriga e infâmia contra Cristo; embriagaram o povo inculto e neste festim odioso conseguiram livremente perpetrar o crime. O povo inculto e miserável foi o instrumento do ódio usado pelos poderosos.

Perdoa-lhes Pai, eles não sabem o que fazem, suplicava Cristo! O dinheiro traidor passou de mão em mão e perante a recusa de Pôncio Pilatos de condenar a Cristo porque o considerava inocente, o povo condenou a Cristo de Nazaré gritando: “Caia sobre nós e sobre nossos filhos o sangue deste homem”. Cristo foi assim supliciado no Monte do Calvário.

Mal sabia o povo que fora enganado, condenando a morte o seu melhor amigo e defensor. Os humildes condenaram-se a si mesmos. Quando despertaram da letargia alcoólica, sentiram-se acusados na sua consciência. Eis que surge então a ideia do resgate. A fé em Cristo Jesus não mais se apagaria dos seus espíritos e passa a ser transmitida fervorosamente de pais para filhos mesmo a custa de todas as provações e sacrifícios.

Consentiram todos os sacrifícios, perigos, sofreram dos poderosos as violências mais selvagens. Alguns foram lançados as feras famintas que os devoraram vorazmente. Outros lançados a fogueira que os consumiram, alguns ainda atirados sucumbiam nas masmorras, nas galés, invocando o nome de Cristo.

O sofrimento dos que partiam mais afervorava a fé dos que ficavam. Seduzia-os o exemplo do Mestre. Não amavam as suas vidas até a morte.

Dura esta violência ainda hoje com contornos diferentes. O ideal cristão triunfara finalmente. Porque é impossível dominar a fé.

Os dominadores mudaram a sua estratégia, decidiram partilhar da fé cristã mas com o fim premeditado de alterarem a essência da doutrina a favor do seu domínio e mando. Mais uma vez os oprimidos tinham de ser enganados. A obra de Cristo, sincera e humana, só duraria enquanto os interesses materiais e o ideal não estivessem em conflito.

Com a astúcia de uns e a ingenuidade de outros tudo se foi transformando e pouco resta da doutrina primitiva.

A moral cristã constitui um pesadelo para os que amam a opressão. Cristo é o mentor por excelência dos oprimidos que pretendam sacudir o jugo escravo e conquistar a liberdade. De modo algum agradava aos poderosos. Foi eliminado como lhes convinha. PORÉM RESSUSCITOU ESTA VIVO... Por isso, como António Manuel Ralha, pergunto eu também? Quando Cristo voltar a este mundo que processos inventarão desta vez para o liquidar? Vão aponta-lo como inimigo público, elemento perigoso para a sociedade. Pagarão a ignorantes para o escorraçar. Tecer-lhe-ão em volta as piores intrigas. Hão-de atribuir-lhe as piores infâmias. Proverão novo julgamento e nova farsa trágica se movera contra Cristo.

Porque não serão outros os inimigos de Cristo nem mais suave a sua crueldade.

Perdoa-lhes Senhor digo eu.
SM

06 dezembro 2009

Copenhaga pela Terra...

A partir de amanhã, dia 7, e até ao próximo dia 18 de Dezembro o Mundo vai estar com os olhos em Copenhaga, Dinamarca, mais concretamente para a 15.ª Conferência das Partes, no âmbito das Nações Unidas, a COP15, que se espera seja mais que um Protocolo de Quioto II, e o início de uma melhor compreensão dos Países poluidores face às alterações climáticas por que passa o ainda Único Condomínio que a Fauna (Humanos e Animais), a Flora e os Microrganismos têm para sobreviver!

E não basta alguns países exigirem compensações derivadas dos CO2 emitidos pelos mais poluidores se aqueles também nada fazem para salvaguardarem os seus "bens" mais preciosos.

Recordemos como a Amazónia tem sido desbastada ou as florestas virgens equatoriais de África e Indonésia; e não é devido ao CO2 (daquele que vem do ar, mas daquele que sai das motosserras, tractores e camiões que derrubam e transportam as árvores abatidas) mas para uso e lucro de uns quantos à revelia dos interesses dos seus Povos e dos seus Países!

03 dezembro 2009

Moco não fala para as mudas paredes…

(imagem NL)
O Notícias Lusófonas, traz hoje à estampa e em manchete, pela mão do jornalista Jorge Eurico, um «Manifesto» de Marcolino Moco, académico e antigo primeiro-ministro, sob a forma pouco – nada – prazenteira como "Dino Matross" terá tido com ele quando o mesmo “convidou” Moco a ir ter com ele na Assembleia Nacional.

As fortes palavras de Moco merecem uma forte ponderação e devem servir para abrir o debate político não só entre o “seu” MPLA (de que é “Militante livre”, como se identifica) como mesmo entre os diferentes partidos políticos nacionais.

Alguns dos parágrafos bastaria alterar o nome do Partido e de alguns nomes para servir de “chapelinho de soba” a muitos dirigentes e partidos até pela democraticidade que, infelizmente, parecem vir, cada vez mais, perdendo.

Eis algumas das passagens do «Manifesto de Moco» que pode – DEVE – ser lido, na íntegra, no
Notícias Lusófonas:

Na verdade, como deve ter sabido, a minha primeira decisão era não ter ido ter consigo, pela forma como fui abordado, como se eu fosse um desocupado, à chamada de um senhor misericordioso; e também não iria ao seu encontro por desconfiar que me iria dar lições atávicas, sobre as minhas opiniões, como cidadão e académico, em relação ao momento constituinte, (…) já que vocês, sem nenhum pejo, barraram todo o contraditório em relação ao interior do país, simulando uma grande generosidade em fazer participar o país na elaboração de uma constituição que vocês já sabem qual será. (…) Pela forma arrogante como me falou não vou mais insistir nas opiniões que tentei trocar consigo, porque vi que o senhor não estava interessado em dialogar, mas apenas em tentar impor-me ideias que - diga-se, mais do que imaginava, horrorosamente atávicas.

Reitero, por minha livre vontade, que continuo ligado sentimentalmente ao MPLA (talvez deixe de fazer essa referência pública, e deixe de referir que vocês são meus amigos, se isso tanto vos perturba) conservando o meu respeito ao Presidente do Partido, mas sem temor (como temer um combatente na luta contra o medo colonial e não só!?). O que penso, a partir do nosso último encontro (pode ser que esteja enganado!), é que são vocês que o apoquentam com a ideia de que qualquer referência a ele, desde que seja crítica (mesmo quando positiva) é falta de respeito, é “falar mal do Chefe”, etc., etc., etc.

“(…)Para mim o tempo da vovó Xica de Valdemar Bastos: “não fala política”, já lá vai há muito tempo. Paradoxalmente, o camarada Dino Matross, foi um dos grandes obreiros desta gesta. É pena! Era para nos tirarem o medo dos estrangeiros e nos trazerem o vosso medo?! Eu recuso-me a tremer perante qualquer tipo de novos medos.

Declino o convite que o camarada diz ter pedido para mim, ao Presidente do Partido, para ser convidado ao VI Congresso do MPLA. Não aceito a perspectiva chantagista, condicionante e ameaçadora que deixou transparecer do tipo: "se não for então que não se arrependa" ou "então será abandonado" (…) Como costumo dizer, desde a “Queda do Muro de Berlim”, em 1989, que estou preparado, sobretudo espiritual e psicologicamente, para não viver a custa de lugares em qualquer partido.

Olhem à volta e vejam como arrastam o MPLA à situação de ser o mais retrógrado dos então chamados partidos progressistas de África! Incapazes de perdoar, do fundo do coração (já nem falo da UNITA e dos chamados "fraccionistas") até os próprios fundadores do nosso glorioso Partido, como os irmãos e primos Pinto de Andrade; e um Viriato da Cruz, de cujo punho brotaram estrofes esplendorosas, para uma África chorosa mas em "busca da liberdade", usando palavras de outro vate da liberdade; o Viriato da pena leve e elegante que riscou o próprio "Manifesto", donde nasceria uma das mais notáveis siglas da humanidade (…)”

E, antes de terminar, Moco afirma a certo ponto “(…)Política, na verdade, diversamente do que vocês querem impor, contrariando (mesmo neste tempo de democracia pluralista), o grande Agostinho Neto, que disse não dever ser um assunto de “meia dúzia de políticos”, terá que ser, e será, inexoravelmente, uma questão fora do esoterismo a que vocês a querem submeter, em Angola. Estou cansado das vossas chantagens e humilhações. Por enquanto, é este o meu manifesto contra o medo e contra uma ditadura do silêncio que não aceito.

30 novembro 2009

Quando o lúdico e a segurança se conflituam…

"Segundo algumas notícias que se vão ouvindo no éter radiofónico, nomeadamente na RDP-África, a região autónoma do Príncipe está em polvorosa, nomeadamente o Governo Regional, porque um radar de segurança colocado naquela ilha interfere com as emissões de rádio e da televisão, em particular, com as emissões para África da RDP e RTP.

O radar em questão foi colocado na ilha ao abrigo dos acordos de segurança rubricados entre o Ministério da Defesa santomense e as autoridades de defesa marítima norte-americanas tendo em vista não só a defesa do Golfo, onde parece haver muita gente que se esquece que está a caminhar a passos largos para ser uma nova Somália no que toca à pirataria marítima, como se enquadra no programa afro-norte-americano AFRICOM.

Recordemos que, inicialmente, era intenção dos EUA colocar vasos de guerra estacionados na região, nomeadamente, em São Tomé ou no Príncipe, fazendo destas ilhas umas novas Port Arthur.

Todavia, a manifesta “má-vontade” de Angola e Nigéria as potências regionais em emergência e em “conflito” pelo domínio da região centro-africano e do Golfo, e o facto da presença das forças navais – e com ela outras forças militarizadas – não seria muito bem quista por outros Estados da região nem por aqueles que continuam a considerar que África é um feudo particular – recordemos como a França continua a olhar para o continente Africano e para as regiões onde foi potência colonial – levaram o departamento de Defesa norte-americano a ponderar pela não presença dessas forças mas pela colocação do referido radar.(...)
" (continuar a ler aqui)
Publicado no , edição 242, de 28/Novembro de 2009

25 novembro 2009

UNITA vai apresentar Moção de Censura; para quê?

"Como afirmava há dias um colega destas lides, com a particularidade de ser um renomado jornalista, nada como de vez em quando aparecer para que não se pense que estão “mortos”.

Depois de contestar as linhas programáticas onde parecem vir assentar a futura Constituição Nacional, a UNITA, talvez porque os principais órgão de informação global que são estatizadas – leia-se, quase totalmente partidarizadas – não lhe deram a devida importância, decidiu avançar para um facto político que poderia ser relevante caso o partido do Galo Negro gozasse de uma força que nas últimas eleições não soube – vamos admitir que não soube – capitalizar.

Ou seja, a UNITA, de acordo com a sua líder parlamentar, Alda Sachiango, que preside a menos de 10% dos deputados que formam o actual Parlamento angolano (16 assentos em 220 lugares), vai propor uma Moção de Censura ao Governo do MPLA que domina cerca de 2/3 do referido Hemiciclo (191 em 220 deputados).

A UNITA assenta a sua Moção no facto do Governo estar a falhar algumas das promessas feitas durante a campanha – recorde-se que as principais até foram feitas pelo seu líder num dos actos de campanha por ele protagonizado e não pelo MPLA que se limitou a cimentar as suas bases e implodir as dos seus adversários – bem assim pelas críticas que o Presidente vem vindo a fazer a alguns membros do Executivo angolano como se percebeu na abertura da reunião do Comité Central do MPLA, no passado sábado, quando Eduardo dos Santos «pediu "tolerância zero" para os actos de gestão "ilícitos, danosos ou fraudulentos"». (...)
" (continuar a ler aqui ou aqui)
Publicado na secção «Colunistas» do , de hoje: podem também verificar o artigo da Manchete onde a matéria é igualmente abordada (posteriormente reproduzido, no portal Zwela Angola, na coluna "Malambas de Kamutangre", em 30/Nov./2009)

22 novembro 2009

Mundial de Futebol de Praia 2009

(imagem do Mundialito de Futebol de Praia ocorrido, em tempos, em Portimão, Portugal; imagem daqui)

Está decorrer até hoje, em Dubai, EAU, o Mundial de Futebol de Praia (ou futebol de areia).

Até ao momento ainda não sei quem é o vencedor que sairá da final que oporá Brasil à estreante Suíça. Em princípio e fora alguma surpresa – basta recordar a
final no Mundial dos sub-17 realizado na Nigéria – o Brasil deverá arrecadar a medalha de ouro e, por consequência, o título Mundial.

Só sei que para o terceiro lugar Portugal bateu o Uruguai, com quem tinha perdido na primeira fase, por 14-7 arrecadando, uma vez mais, a medalha de bronze (acabado de ser televisto na Eurosport2).

Não consegui saber quem foram – se foram – os países que representaram o continente africano. Pelo menos na arbitragem África esteve representada porque num dos encontros que televisionei estava presente um árbitro nigeriano.

O que pergunto é por onde anda Angola ou Moçambique, países com muito boas condições para apresentarem excelentes selecções com muito bons jogadores.

Recordemos como em Angola havia tantos “brinca-na-areia” um dos quais, Dinis (na
Mini-Copa de 1972 os locutores radiofónicos brasileiros, que relatavam os jogos, tanto vezes afirmaram que tinha nascido em… Bengala), esteve em destaque no sorteio – diga-se muito bem apresentado na TPA (nem sempre tem que ser tudo mal) – do CAN "Orange-Angola 2010".

De certeza que se a FAF
decidir apostar no futebol de praia – até porque ouvi dizer que está na calha para ser modalidade olímpica, se já não é – de certeza que poderemos mostrar ao Mundo uma boa selecção.

Têm a palavra Justino Fernandes e a FAF porque ainda vamos a tempo!

Crónica de João Craveirinha: A origem do espírito brasileiro “anti-português”

Mais uma interessante análise de João Craveirinha desta feita sobre algum certo "anti-português" de uma certa sociedade brasileira que o mesmo tem verificado durante a sua estadia em Terras de Vera Cruz.

Dialogando por João Craveirinha
(escrito em P.M. - português de Moçambique)

Crónicas dos (27) Brasís – I (série)
Breves incursões diacrónicas (passado ao presente).
Subsídios para compreender o Brasil e os brasileiros.

A origem do espírito brasileiro “anti-português”
“E quem nos fez assim (antes de tudo quanto tem de particular a nossa vida) foi a própria Europa. “ (in Pombo, Rocha (1925). História do Brasil, pp.279).

Grosso modo, até que ponto se poderá inferir que no Brasil possa existir um sentimento de repúdio ou desprezo a tudo que se relacione com Portugal, incluindo a África onde se fala português? Até que ponto está entranhado no imaginário colectivo brasileiro contemporâneo esse sentimento?

Essa verificação ad hoc poderá ser consubstanciada in loco no Brasil, sobretudo entre as camadas urbanizadas e quanto mais ditas eruditas, se acentuaria esse fenómeno. Obviamente haverá sempre excepções à regra. Mas no fundo ou na génese do tema tratar-se-ia de ressentimentos e recalcamentos em relação à antiga metrópole colonial paulatinamente (re)construídos a partir do século XVII (1600/1699) e teríamos de analisar... “até que ponto esta aversão foi alimentada pelos próprios intelectuais brasileiros (incluído Machado) que, no empenho de se distanciarem da metrópole (colonial portuguesa) viraram críticos azedos de tudo o que acontecia na Península (Ibérica) e renegaram da origem, tentando ganhar uma identidade própria. Não sei qual teria sido a atitude dos brasileiros se D. João VI (rei de Portugal, início séc. XIX) tivesse sido derrotado por Napoleão. Será que teriam gostado de serem cidadãos franceses?”...(depoimento de uma professora latino-americana sobre este tema).

Essa aversão vem ressurgindo em força no novo Brasil pretendente a um lugar entre as super-potências mundiais (?!). A confirmar-se (esse espírito brasileiro) inferir-se-ia que esse sentimento brasileiro “anti-português” se encontra parado no espaço e tempo. Não teria havido o necessário exorcismo dos fantasmas diacrónicos do Brasil desde 7 de Setembro de 1822 (187 anos de independência passados, em 2009).

Por outro lado, as tradicionais piadas (chistes) de mau-gosto no Brasil inferiorizando as capacidades mentais dos portugueses reflectem uma forma de complexo das avoengas lusitanas nos genes desse brasileiro remetendo para uma espécie de complexo colonial a necessitar de esclarecimento lúcido ou de uma catarsis. (Actualmente há um processo contrário em Portugal de piadas para inferiorizarem brasileiros que chegam à Europa quer como emigrantes quer como turistas - é o reverso da medalha da piada do “matuto”- simplório. Este processo inverso teve início após a entrada de Portugal na União Europeia em 1986. É de se dizer “tal pai, tal filho”).

Rocha Pombo

Uma possível análise desse fenómeno brasileiro
Para tal socorremo-nos do ilustre historiador brasileiro, José Francisco da Rocha Pombo, mais conhecido por Rocha Pombo (n. Paraná, 4 de Dezembro de 1857, f. Rio de Janeiro em 26 de Junho de 1933). Ora nas páginas do seu livro de História do Brasil (1925) volume II, no capítulo IX intitulado “O Regime Colonial”, na pp. 73 vemos inserido o “Capítulo IX – Síntese das causas que atuaram na diferenciação do nosso espírito nacional.”pp. 278. Eis um resumo dessas causas em cinco pontos:
I - O Brasil colónia portuguesa ter ficado entregue aos colonos portugueses que a geriam de acordo às suas vontades e necessidades sendo motivo de orgulho “e de entusiasmo pela (nova) pátria; e ao mesmo tempo feridos de ressentimentos e queixas amargas contra a côrte;” (em Lisboa).
II - A convicção que os interesses da colónia e do reino de Portugal não se combinarem.
III - A enorme distância geográfica a afastar Portugal na Europa, e o Brasil na América do Sul.
IV - “O encontro” do europeu, ameríndio e do africano, originando uma “fusão” genético-cultural que teriam de ser “resolvidas” no Brasil. (Nem sempre pacífica diga-se. O itálico é nosso).
V - Um espírito colonial de conquista do interior (sertão), a partir de um esforço próprio considerado heróico pelos colonos na manutenção e defesa de um património que sempre defenderam (como seu) assim como o enriquecimento com as minas (mentalidade de novos-ricos). O “bandeirante e o mineiro” expressariam as derradeiras acções do período colonial no esforço de erigir uma nação (o Brasil). O século XIX (1800/1899) deixaria um travo amargo nos colonos portugueses de (...)“profundo ressentimento, uma desconfiança irredutível”(...)” em viva antipatia e repulsa por tudo que de lá nos vinha”(...). E do “antagonismo entre filhos da terra” (Brasil) “e filhos do reino” (Portugal). Passaria essa aversão para o próprio país e às suas instituições mais emblemáticas, acrescentaria Rocha Pombo (em 1925). O “desprendimento” a tudo relacionado com Portugal (mãe-pátria) seria a motivação para os (luso) brasileiros estarem por sua conta e risco.

É paradigmática esta “aversão” a tudo que vinha do reino de Portugal nas suas colónias por parte de seus descendentes, quer na América do sul (Brasil), em África, Ásia ou Oceânia (Timor).

Maranhão

Flash back (diacronia)
Segundo crónicas do séc. XVII, em 22 de Novembro de 1652, parte de Lisboa o padre António Vieira integrante de um grupo de outros missionários (Jesuítas) acompanhados por dois capitães-mor chegariam ao Maranhão (S. Luiz), situado entre o Pará do Belém na parte norte do Brasil e do nordeste Piauí (Teresina), Bahia (Salvador), e a sul, Tocantins-Palmas (Goiás). Esses oficiais traziam ordens expressas do Reino para “corrigir os excessos praticados pelos moradores” - colonos portugueses e outros europeus (?!) contra os ameríndios (guaranis) que eram brutalizados em trabalho escravo pelos proprietários de terras (outrora dos mesmos ameríndios). Ora essas e outras situações “normalizadoras” eram consideradas como ingerência nos ”negócios” da colónia e respondidas muitas vezes de armas na mão pelos colonos portugueses (brasileiros) contra as autoridades do reino de Portugal. Esse espírito seria eventualmente transmitido trans-geracionalmente aos dias de hoje, sem que na contemporaneidade, quiçá, se tenha a noção da origem desse sentimento, aliás, peculiar nas colónias de outras potências coloniais europeias de então, com algumas variantes. No entanto, o caso da gesta colonial portuguesa é sui generis. O português é por excelência um puro nómada global quinhentista. A essência da sua “necessidade aguça-lhe o engenho”. Fez-se ao mar repleto de Adamastores que o amedrontavam, e superou-se. Faz parte da sua índole lamentar-se. No entanto segue em frente. Ou pelo menos assim fazia. Insatisfeito com o seu torrão natal vai, parte, e o seu génio e mau génio, recriam outros Portugais em outras paragens longínquas e inóspitas como por exemplo pelo nordeste brasileiro de temperaturas elevadíssimas ou pela selva amazónica densa e húmida. Compõem em desgarrada um “Fado Tropical”(1). Rompe com a mãe-pátria na Europa. O caso português-brasileiro é paradigmático. No caso africano os ventos da história pregaram-lhe uma partida. Mas isso fica para outro dia com a letra (2) e a música do “Fado Tropical”.

Notas:
(1) Alusão à composição musical e poética do cineasta moçambicano Ruy Guerra e do brasileiro Chico Buarque.
(2)
http://letras.terra.com.br/ruy-guerra/989543/

Fontes sitográficas:
Biografia de Rocha Pombo: Academia de Letras do Brasil (
http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=214&sid=349
Mapas do Brasil: (
http://www.sites-do-brasil.com/diretorio/index.php?cat_id=881&cat_id_thm=29)
Blog “Pensar não dói”(
http://pensarnaodoiaiai.blogspot.com/2009/03/fado-tropical-chico-buarque-dholanda-oh.html)

21 novembro 2009

Faleceu um blogger mas não a obra!

O blogue “Tomar Partido”, de Jorge Ferreira, ficou hoje órfão do seu autor.

Jorge Ferreira faleceu hoje vítima de doença. Foi um antigo líder parlamentar do CDS-PP e um dos seus principais dirigentes e um dos fundadores do Partido da Nova Democracia (PND).

Regista-se o passamento físico do Homem, do Político combativo, do autor de excelentes textos que surgiam no seu blogue e no Jornal da Nova Democracia. Mas se foi fisicamente o Homem que estava por detrás do blogue, ficou a sua obra política e as suas intervenções políticas e sociais, bem assim as que vão perdurar os seus textos!

20 novembro 2009

Vai-se a União Europeia nasce a Federação Europeia?

Até há pouco a União Europeia, uma constelação de Estados Europeus onde existia uma Comissão e a presidência era semestralmente rotativa entre os Estados-membros, regia-se como, essencialmente, uma União económica, tendencialmente política e social, mas onde o "euro" e os "maiores" já mais mandavam.

Agora com a entrada em vigor, no próximo mês de Janeiro do Tratado de Lisboa, e com a eleição ontem ocorrida do novo Presidente da União, vulgo, Conselho Europeu, o até agora primeiro-ministro belga, Herman Van Rompuy, e da britânica Catherine Ashton como Alto-representante para a Política Externa da União Europeia e, simultaneamente, a número dois da Comissão europeia, ainda liderada por Durão Barroso, passará a existir na Europa um super-Estado onde os Estados, progressivamente, quer queiram, quer não, quer o reconheçam, quer não, irão ver progressivamente, serem-lhe retirados alguns – e provavelmente não pouco – poderes constitucionais.

Podem afirmar que não o é, ainda, uma Constituição Europeia, mas na prática o Tratado de Lisboa é-o. Só diferiu do seu vetado antecessor porque lhe foi retirada a expressão “Constitucional”.

Ou seja, e basta conhecer a História e os movimentos políticos europeus para o constatar, que o que Carlos V, Napoleão, Bismark ou Hitler não o conseguiram por via militar, conseguiu-o o sistema financeiro e a paranóia da Pax Europeia: uma União da maioria dos Estados europeus que o novo “futuro” presidente já afirmou logo nas primeiras palavras ser sua essa vontade "continuar a expandir a UE e reforçar o seu papel como peça importante no Mundo".

Veremos como os EUA, a Rússia, a China e os Emergentes irão aceitar esse “fortelecimento”…

Corrupção, doença ou naturalidade?

(uma imagem daqui)


Comenta-se, e bem, sobre a queda que Angola, Guiné-Bissau e Moçambique etambém, embora pequena, Portugal e Brasil, sofreram no quadro dos Países mais corruptos do Mundo.

De acordo com o
Transparency International (TI), Angola e Guiné-Bissau estarão entre os países mais corruptos e onde se registaram as maiores quedas, estando relativamente perto da posição 180 onde está o mais corrupto de todos. Melhor estarão Moçambique, Timor-Leste e São Tomé e Príncipe – este terá subido mais de uma dezena de posições – para já não falar de Cabo Verde que mantém um rácio acima da metade, cerca de 5,1 em 10 pontos possíveis (só os menos corruptos conseguem chegar perto deste número).

Portugal e Brasil estarão perto das posições 30 e 80, sendo que o Brasil está bem atrás de Cabo verde que ocupa uma posição entre as posições 45 e 50, ou seja, muito perto de Portugal.

Por curiosidade a França está numa posição próxima do 25º país, oiu seja, entre os menos corruptos.

E falo por curiosidade na França como também em Portugal porque estes dois países por razões diversas andam nas bocas do Mundo – e ambos ligados a Angola – como países onde a corrupção parece estar bem implantada, embora, a Justiça dos dois países esteja em pouco sintonia com a transparência que os processos exigiriam.

Em Portugal, fala-se e comenta-se que 30% dos produtos de luxo vendidos pelas lojas da especialidade, leia-se, de luxo, são-no
aos angolanos. Primeiro foi a empresa de televisão SIC que o noticiou – o que levou o nosso confrade Wilson Dada, no seu “Morro da Maianga” a perguntar se seria mais uma «Campanha da SIC» no que foi hoje retomado na portuguesa RTP e no Jornal Nacional.

Isto só por si não infere que os angolanos estejam a contribuir para a corrupção em Portugal. Pelo contrário, estão a manter viva uma actividade económica que , apesar de tudo, não sofre muito com a crise internacional.

O problema é que em Portugal começam a aparecer certos sintomas de corrupção, embora ainda de
face oculta, mas onde entram pessoas próximas do Estado, com conversas gravadas e escutadas junto de personalidade do Governo, e de empresas, algumas das quais com forte implantação em Angola, um dos escutados até é – ou foi – o presidente de uma instituição financeira que também está estabelecida em Angola, embora já tenha capitais angolanos, tal como em Portugal; mas só o era da parte estabelecida em Angola, ressalve-se... a parte portuguesa, teoricamente privada, tem mostrado que pertence ao Estado português, via CGD…

E Portugal está numa posição relativamente segura entre os menos corruptos. Olha se não estivesse…

Já a França, claramente melhor posicionada que Portugal entre os menos corruptos parece que vive no mesmo lodaçal. Só que há quem consiga ter um Estado mais blindado e por isso passa menos para a opinião pública os escândalos que norteiam os Champs Élysées. Mas quando os amigos se zangam ai que vem tudo ao de cima.

Todos se recordam, por certo, do processo Angolagate e das condenações que houveram e daquelas que morreram para não “ofender” relações políticas e económicas. Só que houve quem parece que não gostou de ser condenado e ver outros a cirandarem pelos Campos Elísios alegres e felizes.

De acordo com
Charles Pasqua o antigo ministro do interior e ex-candidato às presidenciais francesas, um dos condenados, os serviços secretos franceses (DGSE) teriam dado conta ao Estado francês e a algumas das suas mais altas individualidades das negociatas com as armas para Angola.

Ou seja, os amigos nem sempre são para as ocasiões. Mas o que mais ressalva nesta questão é que não vale a pena mandar pedras aos vizinhos quando se têm vidros tão finos ou paredes tão elásticas.

Condenemos, e bem e fortemente, a corrupção. Mas olhemos com olhos de ver para todos. É que na lista da TI que merece uma ponderação bem vincada há países que parecem ser o que não o são na realidade ou seja se mantém atractivamente apelativos como locais aprazíveis de se viver em liberdade e sem corrupção.

Recordemos que Portugal até Outubro de 2005 ou 2006, isto é, até uma declaração do presidente português Cavaco Silva parecia desconhecer a palavra “corrupção”. Só conhecia “a cunha”, “os esquemas” e “os favores”. Agora parece que dia si, dia sim, aí está mais um caso…

Será que a corrupção deixou de ser uma doença na sociedade para ser um acto natural?
Reproduzido, posteriormente, no portal , na coluna "Malambas de Kamutangre", em 23/Nov./2009

15 novembro 2009

Angola, Prémio Nacional de Cultura ou um Muro de silêncio?...

(imagem Jornal de Angola)

Será que o jornalista e escritor João de Melo vai aceitar o Prémio Nacional de Cultura e Artes outorgado – leia-se, imposto – pela Ministério da Cultura angolano em clara discordância ao que os membros do júri propuseram, ou seja, Viriato da Cruz?

Ou será que a reconhecida consciência política, cultural e social de João Melo o fará se inclinar pela declinação desta concessão política – apesar da
ANGOP mostrar fotos em contrário – só porque no MPLA ainda se sente que não estão saradas certas feridas antigas e há nomes vetados?

Ainda hoje num programa “Debate Africano”, da RDP-África, que passa ao fim da manhã de Domingo, havia quem questionasse se a não entrega do Prémio a Viriato Cruz seria porque o mesmo talvez não prevesse a entregue a título póstumo. Recorde-se que já depois de 2000, ano em que foi criado o Prémio, os artistas plásticos, Victor Teixeira “Viteix”, pintor, e Rui de Matos, escultor, foram premiados a
título póstumo.

Faz, de certa forma, lembrar o caso de Luandino Vieira quando foi laureado, em 1965, pela Sociedade Portuguesa de Escritores com o Grande Prémio da Literatura Novelística com o seu livro «Luuanda», naquele que seria o seu segundo grande Prémio já que aquela mesma Sociedade já tentara conceder-lhe, pela mesma obra, o Prémio Camilo Castelo Branco.

Recorde-se que também nessa altura o poder instituído vetou a concessão do Prémio exigindo que o mesmo fosse dado a outrem o que foi negado pelos membros do júri e pela SPE faço que levou ao então Poder demitir todos os órgãos da Sociedade e extinguir o organismo que teve a ousadia de laurear um escritor “maldito” ligado aos “Estudantes do Império” e às questões relacionadas com o movimento independentista das colónias, nomeadamente ao “Processo dos 50”, a suspender o Jornal que, então, teve a ousadia de publicar a notícia, o
Jornal do Fundão.

Quase 50 anos depois e 20 após o derrube do “Muro” outros há que se mantêm para desgosto da Cultura!
Reproduzido, posteriormente, no portal , na coluna "Malambas de Kamutangre", em 19/Nov./2009

11 novembro 2009

Angola, e a Dipanda foi há 34 anos

Porque hoje é o Dia Nacional de Angola vou tentar não pensar muito e ver como as coisas vão andar, embora há quem tudo faça por me obrigar a ponderar sobre a pobreza, a liberdade política, a luxúria, o despesismo, o nepotismo, enfim...

09 novembro 2009

Berlim, e o Muro implodiu há 20 anos!

(Foto EPA/Wolfgang Kumm/Oje)

Faz hoje 20 anos que o então chamado “Muro de Berlim” – ou Muro da Vergonha – caiu depois que Gorbachev mostrou ao então líder da então República Democrática da Alemanha, Egon Krenz, que o Mundo estava em mudança, que na Rússia já decorria uma Perestroika devido a uma quase líquida Glasnost, sem podermos nunca esquecer o enorme contributo polaco através do movimento cívico-sindical Solidarność (Solidariedade).

Pena é que 20 anos depois se veja outros Muros (
aqui e aqui) a serem erguidos ou que algumas personaliaddes ainda não tenham percebido que com a implosão do Muro apareceu um novo ideal político onde as Democracia não se podem assentar no exclusivo predomínio abusador de algumas maiorias…

08 novembro 2009

À mulher de César não basta parecer ser séria…

"Depois da queda do “Muro de Berlim” e do advento da democracia pluralista em África, era sentimento geral que, embora ninguém acreditasse que os ventos da mudanças fizessem logo efeito – em outras partes duraram décadas para se afirmarem – esperava-se, ao menos, que paulatinamente essa mudança minimamente assentasse nos jangos e nas roças da vida africana.

Passou já mais de uma dezena e meia de anos desde que a maioria dos Estados africanos adoptaram a democracia pluralista. E o que se observa e se objectiva?

A presença de uma cada vez maior afirmação de um despotismo iluminado, a confirmação da supremacia de certos partidos sob a capa de liberdade política, a existência de uma cada vez maior conexão entre a política e a economia, a manutenção, apesar de “ilegalizada” pela União Africana, de Golpes de Estado e Intentonas militares, fazem prever que uma pseudo-democracia bem autocrática está firmemente implantada em África.

Por exemplo, o prémio Mo Ibrahim para “boa governação” e que premeia os presidentes africanos que abdicaram democraticamente do poder, não tenha conferido a nenhum antigo líder este ano. As razões, talvez as encontremos nas palavras do presidente ugandês, Yoweri Museveni, quando terá afirmado “Cinco milhões de dólares para mim não é nada. Cinco milhões de dólares é como uma mesada!”. Pois é precisamente este o valor pecuniário do Prémio Mo Ibrahim a ser pago em tranches anuais de 250 mil dólares.

Ora quando um estadista africano, que quando chegou ao poder, em 1986, afirmava que um presidente africano só deveria manter-se no poder durante dois mandatos, e faz uma afirmação destas, pode-se afirmar que, no mínimo, é chocante e… desmotivante!

É que à mulher de César não basta parecer ser séria… (...)
" (continuar a ler aqui)
Publicado no semanário , edição 239, de 7-Novembro-2009

06 novembro 2009

Moçambique pós-eleições, e agora?

Como se sabe Moçambique foi a eleições para as Legislativas, Presidenciais e Provinciais.

Sabe-se que a estas eleições houve constrangimentos que ninguém dos observadores teve coragem de, com clareza, denunciá-los. Bem pelo contrário, aceitou-os, com naturalidade. Recorda-se os impedimentos pouco esclarecidos que levaram os partidos não oficiais – leia-se, de todos os partidos menos FRELIMO e RENAMO – a verem vetados em alguns círculos eleitorais.

Apesar disso, e a fazer fé em todos os relatórios dos diferentes observadores, apesar de certas anomalias o acto eleitoral terá decorrido sem problemas, sendo que o chefe dos observadores da União Africana,
deu nota positiva ao acto.

Por isso, já se sabe, mesmo ainda sem resultados oficiais apresentados pela CNE local, que a FRELIMO e Guebuza foram – ou terão sido – os grandes vencedores.

Como, habitualmente, o também já seria espectável, já se sabe que a RENAMO contestou – ou contesta – os resultados intercalares ameaçando denunciá-los e não aceitá-los por os mesmos estarem feridos de ilegalidades e de fraudes.

Como é habitual neste partido, mesmo ameaçando, como parece que terá acontecido, pôr o País a
ferro e fogo, ao ponto dos observadores estrangeiros, nomeadamente da União Europeia e da SADC dizerem que é aconselhável mais moderação na linguagem, principalmente quando proferida por um líder, ainda por cima da oposição

Ou seja, diplomaticamente, os observadores estão a aceitar que nem tudo decorreu tão bem como propalaram logo.

Entretanto, o Observatório Eleitoral moçambicano decidiu
reunir-se à porta fechada com Afonso Dhlakama. Assim como assim e pelo sim, pelo não, a Polícia moçambicana já irá a caminho das antigas bases da RENAMO em Nampula…

Se fosse só a RENAMO já diríamos, como habitualmente… E para alicerçar as suas habituais queixas e desconfianças apresentou
boletins de voto – em tudo iguais aos oficiais, numerados e verificados – já previamente assinalados que o STAE diz desconhecer.

Mas quando lemos no portal noticioso moçambicano, Canal de Moçambique, uma acusação tão forte como “Fraude filmada em Escola Primária na Beira” denunciada por alguém próximo do MDM e cuja transmissão do vídeo parece ter sido vetada pela TV Miramar embora tenha passado na TIM, uma televisão independente. Nas denúncias subsequentes o MDM acusa o presidente da mesa de ter recusado aceitar o protesto do seu delegado.

Mas houve também, segundo aquele portal denúncia forte fraude no distrito de Búzi onde cerca de 11000 (onze mil!!!) votos terão sido anulados e que os recursos apresentados pelas partes denunciadoras não foram aceites pelos membros das respectivas mesas.

Vamos aguardar que a CNE divulgue, definitivamente, os resultados e que as denúncias apontadas, mesmo que não passem só de uma “dor de corno” sejam totalmente analisadas e bem escrutinadas pela CNE e pelo PGR moçambicano. A bem da transparência e para não ferir o
Prémio Mo Ibrahim de Boa Governação, conquistado por Joaquim Chissano, em 2007… (de notar que em 2009 não houve vencedores…)
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Reproduzido, posteriormente, no portal Zwela Angola, na coluna "Malambas de Kamutangre", em 6/Nov./2009