25 maio 2008

Esta é a África que africanos não querem!!

Relembra-se hoje mais um Dia de África!
Mais um Dia que alguns africanos fazem por tornar recordável pelas piores razões!
No Zimbabué o ainda presidente Mugabe “obriga” um avião da Air Zimbabwe a “despachar” os seus passageiros – pagantes – para ir fazer uma viagem até à China. Uns dizem que é uma viagem de negócios, outros que vai lá por razões de saúde. Por mim penso que vai perguntar aos chineses se desejam voluntários – começa a haver demais no Zimbabué por causa daqueles que não votaram nele e dos que, infelizmente, são obrigados a voltar devido ao xenofobismo sul-africano – para recuperar do desastre natural que foi o sismo de Sichuan – passe a ironia, que não têm a culpa e parece ter humanizado a nomenclatura chinesa – e agradecer os utensílios domésticos e de lavoura – armas, munições e diversos do navio An Yue Jiang – que a China parece ter conseguido fazer chegar ao Zimbabué de Mugabe!
No Sudão os interesses imperiais estão cada vez mais acintosos.
Norte-americanos e chineses disputam os terrenos sudaneses mais “fertéis” em petróleo por via de rebeldes do Darfur e tropas de Cartum e
Nem uns, nem outros respeitam ninguém.
Enquanto isso, o povo do Sudão vai vendo grupos armados assaltarem forças de Paz sob o olhar da AMI ou assistem à troca de armas que são vendidas por quem os deveria defender, as tropas da União Africana
Antes havia a disputa ideológico-imperial pelo Mundo entre norte-americanos e soviéticos. Agora vemos que essa disputa se tornou económico-imperial só que agora é entre os norte-americanos – os sobreviventes – e os chineses (na prática, estes sempre foram imperialistas apesar de o negarem em nome e sob a capada dos Não-Alinhados).
Entretanto, na Somália, no Chade, na República Democrática do Congo, na Nigéria, ou na África do Sul…
Ou, ditadores continuam no poder, enquanto outros são presos – e depois de circularem livremente na Europa – mas só quando já lá não estão ou quando os senhores do TPI lhes convém, e continuam ricos, cada vez mais ricos, enquanto a maioria dos seus povos estão pobres, cada vez mais pobres e esfomeados...
Assim não há Dia nem África que aguente!

1 comentário:

Anónimo disse...

Para: Francisco (bartvit@hotmail.com)


"O Rosto do racismo"

2007-11-19



Quando eu vivia em Angola, não sabía o que era na realidade, racismo. Racismo era para mim apenas uma palavra, nada mais do que isso. Em Angola, convivemos com várias raças. O nosso parlamento é visivelmente multi-colorido e multi-racial. O mesmo se pode dizer do nosso governo. Na escola, tive colegas de todas as raças. Sempre nos dêmos bem, sem grandes makas! Apesar de eu mesmo ter a pele muito clara para alguns, o que já levou alguns a me chamarem nomes como "mulato", nunca em Angola vivi alguma situação que me fizesse pensar que existe racismo.

Depois de chegar á Europa, comecei a perceber que racismo não é só uma palavra. Me apercebí que afinal em Angola, apesar de existír um certo tribalismo, não existe racismo de pretos contra brancos no verdadeiro sentido da palavra. O racismo existe mesmo e está presente é cá na Europa. Não é que eu por cá já tenha pessoalmente vivido uma experiência de racismo. Pelo contrario. O mais estranho até, é que, dificilmente existem pretos que vivam na Europa sem que se tornem pelo menos um bocadinho racistas. É que, devído os constantes insultos contra a raça "negra", pouco á pouco o ressentimento contra os da raça oposta vai crescendo, quer queirámos ou não.

O que se segue serve de alerta especial a todos os angolanos residentes em Angola, mas também a todos os africanos que entendam a lingua portuguesa(moçambicanos, guinienses, Cabo-verdianos e São-Tomenses e até congoleses) e que se encontrem nos seus respectivos países. Serve também como chamada de atenção aos dirigentes africanos dos mesmos países, em particular de Angola.

No dia 17 de Outubro do ano corrente, uma senhora chamada Maggy Delvaux-Mufu, de nacionalidade belga mas de origem congolesa, de 42 anos e mãe de 3 filhos, residente em Luxemburgo, que foi constantemente vitima de racismo naquele país, tomou uma atitude bastante radical para chamar atenção da sociedade naquele país e a nível mundial sobre a presença do racismo e seus efeitos nefastos.

A senhora em causa, estava atolada em dividas. Desesperada, recorreu a uma organização que ajuda a solucionar problemas relacionados com dívidas naquele país(na Holanda exíste uma organização semelhante). Ela escreveu várias cartas a esta organização, explicando os motivos das suas divídas, o montante da divída, e solicitando ajuda. Em resposta, a senhora em causa ao invés de receber da referida organização algum tipo de apoio(o procedimento normal nestes casos sería convidar a senhora para uma entrevista, analisar bem o caso dela e depois establecer algum critério que lhe ajudasse a saldar a divida, desde que ela se comprometesse a pagar em "miúdos", depois de 1 ou 2 anos, o dinheiro de volta á referida organização)ela foi recebendo cartas de conteúdo racista, vez após vez, o que passava a mensagem de que, pelo facto dela ser "negra", não merecía apoio algum, e que só mesmo pessoas da raça dela("negra") é que se individaríam a tal ponto.

Delvaux-Mufu não teve apenas esta experiência de racismo na sua vida. Antes disso, a senhora Mufu já notava que em alguns lugares lhe eram dado "olhares estranhos" apenas por ser preta. Já se confrontara com situações em que foi chamada de "negra", ou discriminada de outras maneiras. A senhora Mufu estava farta de ser discriminada. As cartas de conteúdo racista foram a gota d'água para ela.

Uma Atitude Chocante!

Em reação ás varias cartas de conteúdo racista que foi recebendo, a senhora Mufu decidíu escrever para vários jornais avisando da situação dela e que ela se queimaría viva em público, já que por ser "negra" não merece gozar dos mesmos direitos que os outros cidadãos naquele país(notem que ela tinha nacionalidade europeia). O Jornal "Le jeudi" tornara pública uma de suas cartas, em que a senhora dizía em parte: "eu sou contra todo tipo de violência mas o que se passa é que cada dia que passa eu e a minha familia temos de suportar violência moral, discriminação e muito mais do senhor Juncker da admnistração", disse na carta publicada na semana passada.

A senhora Mufu alertara a opinião pública nacional que se queimaría viva no largo dos mártires no centro de Luxemburgo as 12 horas, em protesto contra o racismo. Apesar de muitos dos leitores dos jornais e até instancias do estado a principio não levarem a sério as palavras desta senhora de origem africana, a policia foi alertada e um grupo de oficiais foi destacado para o local.

No mesmo dia que a senhora Mufu prometeu queimar-se viva, esteve antes, pela manhã, em frente ao gabinete do primeiro ministro protestando contra a maneira que estava a ser tratada e solicitando ajuda para melhorar a sua situação financeira. Durante o protesto, a senhora Mufu reiterou a sua ameaça de se queimar viva em protesto contra o racismo. Ninguém do gabinete do primeiro ministro deu ouvidos á senhora mas a policia mais uma vez foi alertada.

Mais tarde, no mesmo dia, a senhora Mufu dirigiu-se ao largo dos mártires, no centro de Luxemburgo. Camufladamente, ela carregava com ela uma bolsa onde havia um Isqueiro e uma lata de gasolina. A policia já patrulhava a área. Repentinamente, a senhora Mufu muda de planos. Ao invés de dirigír-se ao largo dos mártires como avisara, ela se dirige agora para a "praça das armas", um lugar oposto ao largo dos mártires, onde se reunía um grupo de jornalistas que cobría um evento organizado pelo "Movimento ecológico".

Ás pressas, a senhora Mufu se dirige para o meio dos jornalistas, e avisa que estava prestes a sacrificar a sua vida em protesto contra o racismo. Momentos depois, num gesto que assustou as centenas de pessoas concentradas no local, a senhora Mufu abre a sua bolsa e retira dela uma lata de gasolina e despeja sobre si! A multidão entra em panico. Em poucos segundos, a senhora Mufu já tem um Isqueiro aceso na mão e incendia-se a sí mesma no meio de toda multidão reúnida! Bastou acender o isqueiro e a senhora Mufu transforma-se logo numa tocha humana. Imediatamente os jornalistas tentaram abafar o fogo com os seus casacos e camisolas, enquanto a senhora Mufu começava a gritar bem alto e correndo, devido a dor que sentía. Foi uma cena deveras chocante, inimaginável. Abaixo, seguem algumas imagens desta cena horripilante, conforme saíu no canal de televisão RTL.







Centenas de pessoas começaram a correr dispersas enquanto viam no centro da cidade uma mulher negra, envolta em chamas, a correr e a gritar em desespero. Pelos gritos da senhora Mufu dava para perceber quão grande era a dor que sentía devido a queimadura. Alguns dos transeuntes devído aquela cena começaram a vomitar, outros simplesmente fugiram do lugar. Quando as ambulancias e os bombeiros chegaram no local, as chamas já tinham sido extintas do corpo da senhora pelas dezenas de pessoas que acorreram em seu socorro.

Delvaux Mufu foi levada para o hospital ainda viva, mas em estado grave. Até hoje ela continua viva mas lutando pela sua vida no hospital Bon Secours METZ, onde se encontra internada. Tem recebido diversas visitas de pessoas de diferentes escalões sociais, desde politicos até membros de ONG's e activistas dos direitos humanos.

A Necessidade de uma África para os africanos.

Como residente na Europa, o berço do racismo, tenho andado a reflectír muito nestes últimos dias na atitude desta senhora congolesa. Delvaux Mufu tem sido chamada de "O rosto do Racismo", e a sua atitude expõe a hipócrisia da sociedade europeia no que se refere ao racismo. O racismo existe, e na Europa tem raízes muito fortes. O africano até nos dias de hoje continua a ser humilhado, barrado em muitas áreas na Europa apenas pela sua aparência e côr da pele. Não existe no mundo nenhuma raça mais discriminada e humilhada do que a raça "negra". Dificilmente eu tería orgulho de alguma vez ser chamado de europeu, ainda que exiba a nacionalidade holandesa. A senhora Mufu era "belga" de nacionalidade, mas tinha um "handicap": era "negra", e para os adeptos de "James Watson", ela é inferior e portanto não merece os mesmos direitos que os europeus autoctenes.

Perante esta realidade, surge a necessidade de construírmos uma África onde o homem africano se possa sentír verdadeiramente dono da sua terra e do seu destino.

Isso só vai acontecer quando os líderes africanos tomarem consciência de que é hora de começarem a investir no homem africano. Isso evitará que o africano tenha de emigrar constantemente a procura de pão, trabalho e liberdade além fronteiras.

No caso de Angola, não basta só termos líderes que dizem: "Primeiro o angolano, segundo o angolano...o angolano sempre!". Esta teória cai por terra quando se excluiem deliberdamente alguns angolanos por serem Kimbundus ou por terem nascido em Luanda. Quando defendemos primeiro o angolano, deve significar defender o angolano de todas as tribos do nosso país, sem que se queira impôr de maneira discreta ou aberta uma tribo como superior em relação á outra.

Se cultivarmos o hábito de nos defendermos, de nos valorizarmos como africanos que somos, evitaremos assistir constantemente a fuga massiva de africanos de África para a Europa onde quase sempre acabam sendo discriminados e tratados como cidadãos de segunda. Recentemente o Israel expulsou 45 imigrantes africanos de Darfur, que pretendiam se refugiar naquele país. Eles nem foram permitidos entrar no país. Foram simplesmente expulsos e abandonados á sua sorte, e nem contaram com a solidariedade de país africano algum!

. Os líderes africanos devem ganhar juízo e cultivar valores como solidariedade, amor e respeito para com o seu povo. O africano deve sentír-se seguro e orgulhoso de viver em África, porque não existe nenhuma outra parte do mundo onde o homem africano ou "negro" não seja discriminado. Irónicamente até em África o africano é discriminado na côr da sua pele; não é só discriminado: é privado de todos os seus direitos fundamentais, fazendo-o emigrar em busca de novas perspectivas. O cúmulo da vergonha é assistirmos em Angola, cidadãos perderem suas casas a favor de alguns refugiados portugueses, supostamente os donos das mesmas casas antes da Independência. O caso mais recente é o do cidadão português José Borges, que para além de ser um cidadão português, que comprovadamente se encontrava ilegal, ainda lhe foi dado o privilégio de abrir um processo judicial contra um conhecido jornalista angolano. Este privilégio jamais um refugiado africano terá na Europa. Os nossos líderes são tão distraídos, que logo após a dipanda se esqueceram de promulgar leis que condenassem o colonialismo e até os "comprovados" ex-colonialistas; ao invés disso, assiste-se a chegada massiva de vários ex-colonialistas em Angola, a maioría deles refugiados económicos, que se dão ao direito(que lhes é dado) de exigír as suas pertences do periúdo colonial, conquistado ilegalmente em Angola! É assim que muitos de nós acabamos por nos encontrar na mesma situação vivida por Delvaux-Mufu.

Esta senhora podía ser angolana. Esta senhora podía ser a mãe ou a irmã de um de nós. Esta senhora é uma africana que merecía estar em África a viver bem (o Congo é um país tão rico)!

Conforme eu dizia no inicio, em Angola nunca vivi uma experiência pessoal de racismo. Mas um amigo meu, um angolano estudante na África do Sul que recentemente visitou Angola de férias, me deu novidades nada agradaveis relacionado a este assunto. Ele constatou em loco, para a sua tristeza, que há uma tendência muito grande do aumento do racismo em Angola. Segundo ele, existem empresas em Angola, principalmente bancos, que preferem contratar pessoal de raça branca ou raça mestiça(em Angola existe raça mestiça, basta dar uma olhada no B.I de alguns),como seus funcionários. Estes, auferem geralmente um salario melhor, para não mencionar outros privilégios.

Certa vez tentei questionar isso a uma amiga advogada, uma jovem angolana de "raça mestiça" residente em Luanda. Quís saber dela, desse boato que exíste por ai, de que nos bancos em Angola e em algumas empresas, os brancos e mulatos são privilégiados. A resposta dela foi mais ou menos esta: "Tens de vêr que as empresas precisam de pessoas competentes para trabalhar nas mesmas, não se trata de racísmo, trata-se de competencia", respondeu ela.

"Então queres dizer que os pretos não são competentes"? Perguntei eu admirado com a resposta dela. Ela não soube me responder a esta pergunta.

Eu só espero que no meu regresso para Angola, depois de aturar os racistas de cá, não me volte a confrontar com os racistas de lá. A minha atitude podería ser tão radical como a da senhora Mufu....mas de maneira inversa!

Até lá, rezemos todos pela recuperação da senhora Mufu, uma africana corajosa que se mostrou disposta a sacrificar a sua vida em protesto contra o racismo! Para você que leu e entendeu...por favor: passe a mensagem!

*Nota: Que ninguém repita a atitude de Delvaux-Mufu, que eu condeno e considero ter sido a mais errada possível.

Por: Osvaldo Rodrigues.

*Também publicado em http://www.club-k.net
Leia também "Por África não nos calemos!" clicando AQUI
Osvaldo S. Rodrigues