11 março 2008

Uma questão de “armamento” a reter…

(... e quem tem destas, também precisa de declarar ou estarão num paiol?; imagem daqui)

Onze paióis abarrotados de armamento de calibre diverso foram descobertos nas localidades de Betânia, Mira Sete, Tchiengue, Kavimbi, Kutuilo e Licua, nos municípios de Mavinga e Rivungo, Kuando Kubango, no decurso de uma operação de busca dirigida levada a cabo pelo comando provincial da Polícia Nacional. Em declarações ao Jornal de Angola, o porta-voz da corporação, superintendente Mário Mendes, referiu que todos os paióis descobertos estão localizados nas antigas áreas de influência da UNITA, durante o conflito armado, e somente o de Licua foi já desmantelado.” (in: Jornal de Angola, Online, sob o título “Polícia descobre 11 paióis no Kuando Kubango” de 11-Mar-2008)

Um facto a reter e a não deixar passar em claro.
Principalmente, não deixar passar em claro que a Polícia Nacional não diz a quem, eventualmente, pertencerão as eventuais armas descobertas nos tais 11 paióis como também não diz, quem os denunciou ou se o eventual armamento descoberto estava obsoleto, ou não, e o que continha, excepto que seriam “armamento de calibre diverso”!
Nada transpira. Deixa no ar para os bons entendedores. Se foi descoberto na área da UNITA e depois das “denúncias” do Ministro da Defesa, senhor Kundi Payhama, é natural que os bons entendedores tirem de 2 mais 2, que os paióis são da ex-FALA, Forças Armadas Revolucionárias de Angola, o antigo braço-armado da UNITA.
Tão simples como isso.
Mas se recordarmos as tais palavras do (ainda) senhor Ministro da Defesa, que parece se ter esquecido que superintende as Forças Armadas de Angola (FAA), as únicas legalmente autorizadas para deter armas e paióis de calibre militar, estranha-se que tenha sido a Polícia Nacional e não, como seria expectável, as FAA’s.
Teria sido porque temeu que o general Numa Kamalata, actual Secretário-geral da UNITA, siga por diante com a promessa – tornada pública numa recente entrevista ao Angolense – de obrigar o senhor Kundi Payhama a provar o que disse perante os Tribunais e o fórum próprio que são as FAA’s?
Além de que tanto a PN como o (ainda) senhor Ministro da Defesa parecem se esquecer do “avisado” tráfego de armas na fronteira lunda entre Angola e a Rep. Dem. do Congo, admitido pelo Comissário Paulo de Almeida, em declarações ao Angolense, e onde relembra que indivíduos se têm aproveitado do armamento abandonado pela UNITA, para levar a efeito o comércio de armas na fronteira dos dois países, cujos locais o general Numa relembra que foram indicados às FAA’s e que o Comissário reconhece que é mantido em segredo por algumas pessoas “que querem obter proveito financeiro” com o referido tráfego…
Ou será para devolver à Polícia Nacional um pouco da perdida credibilidade com os descomedimentos propalados com o caso do português atingido em Cabinda? Para o superintendente Carmo Neto o português foi atingido devido a uma eventual tentativa de roubo de fundos da empresa onde trabalha e que seriam para pagamentos de salários. De acordo com a FLEC – aquela que já estava quase diluída e que vê alguns dos seus antigos guerrilheiros acusarem Bento Bembe de faltar à verdade quanto ao pagamento de reformas – teria sido aquela organização, pretensamente autonomista, que o atingiu como “aviso” às empresas estrangeiras a operarem em Cabinda, além da própria empresa portuguesa também ter desmentido – e a palavra é esta mesmo – o superintendente sobre os motivos que levaram o português a ser atingido.
Realmente, e face à campanha de desarmamento que Angola está a levar a efeito – só peca por tardia dado que já tinha falado no assunto há cerca de 4 anos –, foi um tiro muito certeiro e com subentendidos ainda mais certeiros…
Ou não estivéssemos em pré-campanha eleitoral e em pré-actualização dos cadernos eleitorais…

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