06 dezembro 2007

Fait-divers da Cimeira UE-África II

O presidente da Líbia (Grande Jamahiriyah Socialista Popular da Líbia Árabe / Al-Jamāhīriyyah al-Arabiyyah al-Lībiyyah aš-Šabiyyah al-Ištirākiyyah al-Uthmā) o senhor Muamar Kadhafi convidou a comunidade africana para uma reunião informal onde serão debatidos problemas africanos e a eventual criação da Casa de África.
Concordo com esta proposta mas ressalvando que o seu financiamento não pode estar na(s) mão(s) de um ou mais países mas sempre e tão-só por via do Orçamento da União Africana.
Podem – e porque não dizê-lo, devem – os países que tenham condições para isso darem as suas comparticipações, tipo doações, mas não podem nem devem interferir nem condicionar a liberdade de actuação dos dirigentes da eventual e futura Casa de África.
Ainda assim talvez fosse melhor ideia a criação não de uma Casa de África, que poderá ser um pouco redutora, mas porque não implementar um Centro Africano Multifuncional se promova a criação neste centro de um Clube Africano dos Empresários, Formação e Qualificação profissional, concessão de bolsas a africanos e seus descendentes desde a instrução infanto-primária até ao ensino superior, onde se prestem serviços de geriatria, assistência médica e medicamentosa a africanos residentes e/ou em trânsito em Portugal, promoção cultural e formação de artistas, etc.

2 comentários:

Camilo disse...

Não te iludas...
Desconfia sempre quando um chefe de estado não larga o poleiro...!

Anónimo disse...

Casa d'África

Esta ideia já é antiga. Em 1986(eu regressado de Espanha - Ibiza onde vivia) apoiei em Lisboa um projecto nessa direcção do Dr José Massinga (fundador da Frelimo em 1960/62 e depois no exílio de novo em 1986). Na altura e depois o Fernando Ka (afro-português) (e eu) fomos um dos dinamizadores principais da Casa d'África semelhante à da GB,"Africa House". Projecto desde a década de 1980/1990/2000 e sempre foi mal-querida pelos sucessivos políticos portugueses. Aquando da CML de Santana Lopes tentamos de novo mas em vão a começar por uma sede e uma conferência na Gulbenkian com dignitários negros dos EUA e da GB no lançamento do projecto. Os políticos portugueses assustaram-se. Nessa altura com apoio de políticos e empresários negro-americanos (Jess Jackson à frente) e afro ou negro-ingleses parlamentares (como quiserem chamar) o actual Embaixador da GB na RSA, Paul Boateng. De novo com Guterres como 1º Ministro em vão apesar de algumas reuniões. Nunca houve vontade política portuguesa ou empresarial pois não vêem com bons olhos uma Casa de África com "negros" portugueses na vanguarda do processo como foi e é o caso. Ao contrário da presença dos “brancos” em Angola e Moçambique (muitíssimo menos que os negros em Portugal mas com muitíssimo mais visibilidade para além dos futebóis). Talvez (nessa óptica redutora portuguesa) seja preciso reduzir esses 10% de “negros portugueses” da população de Portugal à contínua invisibilidade e ao silêncio. Não se trata de imigrantes africanos mas de afro-portugueses negros a enquadrar a todos da Diáspora africana aliás como foi recomendado em Setembro 2007 pela UA em Paris (onde estive) e noutros locais do mundo - onde houve reuniões com a descendência africana e dirigentes políticos – Brasil, Jamaica, EUA, GB, França, Suécia, Itália et cetera. Fruto da Diáspora forçada da escravatura de 439 anos (1441-1880). A Cimeira de Lisboa surge no seguimento deste processo e ninguém da Diáspora afro-portuguesa (negros) de pleno direito com nacionalidade portuguesa (alguns só com uma nacionalidade - a portuguesa). A partir de Janeiro 2008 na próxima cimeira no Cabo (RSA) o tema será retomado segundo a agenda de Paris.
Ghadafi deve saber disso e daí esse seu avanço no protagonismo deste tema. Aliás que prosseguirá em Paris durante a semana que começa em 10 de Dezembro de 2008. Mas muita água ainda vai correr. O problema é que os próprios dirigentes africanos - nomeadamente - da dita Lusofonia não dignificam a "sua" diáspora perante a sociedade portuguesa e aos políticos e com a comunicação social. Há complexos de parte a parte (dos dirigentes e empresários portugueses e dos países africanos "lusófonos") que não são tratados com frontalidade e dignidade. A reacção do Presidente do Senegal em parte tem a ver com esta situação que faz com que os europeus tratem sem dignidade os africanos. Sempre houve desconfiança dos dirigentes de Angola, Moçambique, STP e Guiné em relação a seus descendentes mesmo os mais "escuros". Cabo Verde parece ter superado essa situação dos primeiros anos da independência. Questões de poder e de ambição políticas e oportunismos e desconfiança.
Uma Casa d'Africa representativa dos interesses dos afros em Portugal - independente de governos quer africanos quer português ou outro europeu, seria esse o objectivo mesmo que os apoios (legais) venham de África, da Europa, das Américas. Um parceiro válido na defesa da comunidade afro de Portugal. Essa Casa d'África a exemplo de outras na Europa obviamente, terá o estatuto jurídico de uma OGN portuguesa por estar em território português. Durante 1986 a 1996, andamos de Roma a Pavia entre Bruxelas, Estrasburgo. Luxemburgo, Paris, Lisboa, Maputo, Luanda em vão. Erigimos ONGD (para o desenvolvimento). Fora os contactos com Washington (black-caucus e Londres - HC)- A ver vamos o que sairá daqui com a Líbia de Ghadafi.
JC