17 fevereiro 2008

Kosovo auto-declara independência

Manifestações de alegria da maioria kosovar-albanesa após a declaração de independência no Parlamento provincial kosovar (fotos ©Elcalmeida via TV-CNN).
Só uma pequena questão. Qual a diferença entre estas duas bandeiras? Uma é dos kosovares (a da CNN, à direita, e a da SIC, à esquerda) e a do centro é a da Albânia.

Ainda há dúvidas quanto às reais intenções dos dirigentes kosovares-albaneses? Será que a União Europeia interessa-lhe mais mostrar aos EUA que tem capacidade de projecção política e social mesmo que isso lhe possa trazer amargos de boca? Esquece-se a Europa que a Sérvia tem o apoio claro e inequívoco da Rússia, a mesma que já ameaçou utilizar mísseis contra um dos seus antigos aliados, a Ucrânia?
Ou será que a Europa, leia-se, a União Europeia e os Estados-membros que mais força têm, pensa que em caso de conflito os EUA virão logo a ajudá-la. Esquecem-se que também na 2ª Grande Guerra, o pensavam e os americanos só vieram quando a Europa já estava quase de joelhos perante os alemães e os soviéticos.
Ultimamente, a Europa esquece-se muito rapidamente da História…

4 comentários:

Anónimo disse...

Caro Eugénio, a bandeira do Kosovo independente não é essa e vc saberá isso tão bem quanto eu. É azul com o mapa do Kosovo a amarelo e seis estrelas. Essa é a bandeira albanesa que foi usada enquanto identitária da etnia albanesa, maioritária em 92% no território do Kosovo. Agora, com pátria, os kosovores têm tb a sua bandeira, própria, diferente. Confesso que ainda não consegui entender quais os seus argumentos que sustentam a sua posição pró- Grande Sérvia. Os albaneses fizeram-lhe mal?

Abraço
João Tunes

ELCAlmeida disse...

Meu caro João Tunes, os albaneses não me fizeram nem mal nem bem. Nem tão-pouco os sérvios. Só que, como já referi no apontamento anterior, a europa e os EUA estão a abrir um precedente perigoso e esquecer a História e as resoluções onusianas, nomeadamente as resoluções 1514(XV), da Assemb-geral, e 1244, de 1999, do Conselho de Segurança.
Quanto à bandeira só há pouco soube qual era a nova. Até porque de acordo com notícias enteriores, e de hoje mesmo, o Parlamento ia aprovar os novos símbolos nacionais a partir de 1500 propostas. Reconheço que foram rápidos e se verificarmos bem, a bandeira tem um pouco da UE ou não fosse ela azul e dourada. A nova bandeira tem como símbolos o Kosovo e 6 etnias. Mas segundo os kosovares só há duas: sérvia e albanesa. Quais são as outras? turcas devido ao império otomano? gregas?, macedónias? romeno-ciganas?
Um abraço e desculpe responder aqui mas penso que seria importante para um eventual debate.
Eugénio Almeida

Anónimo disse...

Caro Eugénio,

Precedente, precedente mesmo, no desdobramento da Jugoslávia foi a independência da Eslovénia. Lembra-se? E quem questiona, hoje, a independência da Eslovénia? ora bem, Eslovénia autonomizou-se, depois Croácia, depois ..., depois .... A última separação admitida sem ais nem suspiros foi Montenegro. E os espíritos de casta de direitos a nações quando se chegou ao Montenegro, disseram: acabou, não há mais separações para ninguém. Kosovo? nem pensar. Perigoso, irrita os sérvios, coleriza os russos. Porquê? Porque aqui temos muçulmanos, pobres e albaneses. E há um inegável espírito racista em toda a retórica que admitiu as autonomias eslovena, croata, sérvia, montenegrina, bósnia, macedona, tudo gente aceitavelmente (ou medianamente) civilizada, mas no que toca a albaneses, alto e pára o baile. Contra esta descriminação étnica no exercício do direito à autodeterminação e independência, me bato. Aliás, em termos de "perigosidade" (esse grande argumento dos que exprimem um racismo indecente para com os albaneses do Kosovo), só há uma forma de manter convivências étnicas forçadas naquela região: uma ditadura de ferro e eficaz (foi essa a obra de Tito, foi esse o desastre de Milosevic). Num quadro diferente, digamos democrático, com as feridas abertas pelos massacres ainda vivos nas memórias de todos e que a todos tocou, a maior estabilidade obtem-se se cada um dos novos países se ocupar, consumindo aí as energias e sublimando os rancores, a construir a sua nova identidade e as suas viabilidades enquanto Estados e Nações. Forçar o convívio obrigado entre sérvios, croatas e albaneses, num mesmo espaço não percebido de igual forma como casa comum, esse sim é o caminho para a instabilidade e o reacender (e alastrar) das chacinas.

Quanto à ONU que invoca, deixe deliberar o CS que vai reunir de emergência a pedido da Rússia. Veremos como lida com uma situação de facto em que 92% da população de um território escolheu a independência. E se tem capacidade para obrigar 92% da população kosovar a voltar para casa e obedecer de novo aos ditames do Estado sérvio e dos seus amos russos.

Penso eu de que.

Abraço do
João Tunes

ELCAlmeida disse...

Meu caro,
Os países que evocou, e bem, excepto uma parte de Montenegro mas que foi a referendo, o todo, e aceite pelos sérvios, histórica, social e geograficamente não faziam parte da Grande Sérvia, embora estivessem, como a Grécia e uma parte da Austria sob domínio otomano. Chegaram a ser independentes entre as duas guerras, se a minha memória histórica - e estou mesmo a falar de memória - não falha.
Já o Kosovo, e não está em causa o facto de ser muçulmana - ou talvez, paradoxalmente, esteja, face aos últimos desenvolvimentos que se verificam, nomeadamente em Londres e que o meu amigo já fez eco -, de ser pobre, ou de ter uma elevada taxa de desemprego. Há laços históricos que unem a Sérvia ao Kosovo, dado que foi aqui que começou o início da Grande Sérvia.
Que isto vai ser uma independência falhada, não duvide que vai.
Será um país pária só aceite nos salões euro-americanos. Nem a China - muito menos depois de Taiwan ter já reconhecido a independência e porque já cumpriu o seu principal desejo, entrar na OMC - nem Rússia, deixarão entrar o Kosovo na ONU, devido ao veto que dispõem no CS.
Sinceramente, e pelo bem da continuação da Paz na Europa, e no Mundo, gostaria de estar enganado e isto não ser tudo mais que iniciais arrufos de namorados para ver quem afirma-se mais. Gostaria que, como o meu amigo alerta, a ONU reconeça a vontade de 92% dos kosovares. Só que não estou muito crente.
Um grande e fraterno kandandu
Eugénio Almeida