06 setembro 2007

Se as FARC entram, porque não Mugabe?

O senhor Robert Mugabe pode ser – e é – um ditador, um crápula sem escrúpulos que destruiu um País, uma Nação e um Povo. Mas, mal ou bem, com práticas pouco creditícias ou não, foi eleito com o voto do Povo. Logo, apesar de pérfido autocrata, que permite a existência de uma inflação na ordem dos 7000% (SETE MIL por cento) e incentivou á prática de cerca de 25.000 violações dos Direitos Humanos, está legitimado como Chefe de Estado do Zimbabué.
Poderá ser o maior ditador da História. Mas, também, Hitler o foi, Estaline, igualmente, mas nem por isso deixou de ter as portas abertas dos diferentes estados vizinhos porque, no primeiro caso ascendeu ao poder através do voto, e no segundo porque era só o líder de uma das duas superpotências nucleares da época.
E ambos mandaram matar milhões de seres. E nem por isso viram as portas externas fechadas.
Por isso começa a ser hipocrisia quererem fechar as portas a Mugabe e condicionares a reunião entre África e a União Europeia (UE). Reafirmo entre a UE e África e não entre a UE e União Africana; a razão é simples, porque se fosse, Marrocos não estaria presente e sabe-se que a presença dos africanos só está a ser questionada a do presidente do Zimbabué havendo até a hipótese da presença dos sarauis como observadores.
Até agora ninguém questionou essa hipótese.
E se vamos a questionar a presença de Mugabe como iremos admitir na reunião a Eritreia que os EUA se preparam para considerar como Estado-terrorista?
Talvez não seja condicionada.
Se as FARC, considerada quer pela UE quer pelos EUA como uma milícia terrorista e narco-traficante, que tem raptado e mantido em cativeiro pessoas a seu belo prazer, pode estar, livre e ostensivamente, presente no pavilhão oficial do Partido Comunista Colombiano na festa dos comunistas portugueses, como já o estiveram no passado e saudados por um escritor nobelizado, porque não hão-de entrar em Portugal o senhor Mugabe e, ou, os representantes eritreus?
Como alertou há dias o presidente português, num nobre espaço eurocrata, é altura dos europeus e dos diplomatas portugueses começarem a puxar pela cabeça e não permitir que interesses que nada estão relacionados com a realidade africana sejam suficientes para impedir uma Cimeira que aguarda há 10 anos pela sua realização.
Se os ingleses não se sentem à vontade para estar sentados ao lado de um ditadorzeco africano, infelizmente legitimado pelo voto, porque o têm feito com outros ainda mais obscuros e outros, também africanos, que nem pelo voto estão legitimados?
Será que os britânicos é que gostariam de liderar o processo e serem os hospedeiros da Cimeira e recuperar algum do protagonismo que estão a perder para os franceses, nomeadamente, para Sarkozy?
Deixemos de ser hipócritas.
Apesar dos africanos tudo parecerem querer fazer e demonstrar o contrário, África merece mais respeito!
Artigo publicado na Manchete do , de hoje, sob o título "Se as FARC entram em Portugal porquê impedir Robert Mugabe?"

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