09 abril 2007

A quem interessa o encerramento da UnI? - artigo

O Ministro do Ensino Superior português, Mariano Gago, anunciou que está a decorrer uma ordem de encerramento compulsivo da Universidade Independente (UnI), de Portugal. A Universidade tem 10 dias para contestar e apresentar meios e justificações comprovadas e fidedignas que entravem esse encerramento.
Não contesto a medida do Ministro. Não conteste nem tenho condições para tal até porque o mesmo, por certo, estará de posse de elementos mais que credíveis que o levem a afirmar que a situação da UnI está caótica e apresenta-se com “condições manifestas de degradação pedagógica”.
Só fica no ar uma pertinente pergunta.
A quem interessa, de facto, este encerramento e quem vai se aproveitar dele.
Algumas Universidades privadas – e públicas – já anunciaram que estão em condições de absorver os alunos que desejem, naturalmente, abandonar aquela instituição de Ensino Superior. Mas, será que os cursos leccionados nessas Universidades têm total equivalência pedagógica e curricular à da UnI?
Aos alunos que, por uma qualquer razão – não esquecer que a maioria dos mesmos são trabalhadores-estudantes que têm de coabitar aulas e trabalho – tenham seleccionado os exames e provas escritas em função de um do outro, e por esse facto não tenham feitos todos os ditos exames ou todos os exames e provas escritas, como poderão fazê-los nas “novas” Universidades para onde vão.
E também não esqueçamos que alguns, muitos, alunos gastaram alguns largos milhares de Euros, desde o início do seu estudo académico e terão de mudar para outras onde os custos poderão ser maiores e sem garantias de poderem transitar, passar, ou acabar os seus cursos.
Irão as “novas” Universidades abrir provas especiais e específicas para os mesmos. Sob que condições e sob que correcta observância pedagógica?
Por isso, e uma vez mais, se coloca a questão: a quem interessa, realmente, o encerramento da UnI?
E quantos, neste momento, já gostariam de alterar os seus curricula, e apagar dos mesmos, as suas licenciaturas efectuadas na UnI?
E quantos deverão estar, também nesta altura e em função de tantos e estranhos zumbidos reformular eventuais licenciaturas incompletas ou estranhamente concretizadas.
E, já agora, quem irá, se irão, receber professores e investigadores que leccionavam na UnI? É que nem todos têm segundo emprego…
Ou será que vão ser repescados pelas “novas” Universidades para fazerem as eventuais provas especiais aos alunos da “extinta” UnI?
Muitas questões para uma pertinente questão
A quem interessa, realmente, o encerramento da UnI?
Será que o mesmo é um encerramento a favor de um melhor enquadramento pedagógico e, como tal, um aviso claro às restantes Universidades, sejam privadas ou públicas?
Tem havido muitas críticas às Universidades privadas – a maioria admito, justas – mas esquecem-se das não poucas que se fazem a muitas Universidades do sector público. Relembremos as avisadas palavras do Professor José Adelino Maltez, num texto escrito em Outubro de 2000 e reposto agora “Finalmente, importa superar a falsa dialéctica público/ privado. Com efeito há que distinguir a titularidade da função e ter a humildade de reconhecer que uma entidade na titularidade de privados pode, na verdade, exercer funções públicas e que uma entidade na titularidade pública pode apenas encobrir interesses privados. Ora, sou capaz de dizer que parte significativa do sector público do ensino superior é bem pior que parte importante do ensino superior privado (…)”
(publicado no blogue “Sobre o tempo que passa”).
Por isso fica a pergunta. A quem interessa, realmente, o encerramento da UnI?
Aos alunos que tiram efectivas e legalizadas licenciaturas por certo que não é!!!
Por certo só àqueles para quem a política educativa portuguesa continua a ser pouco menos que nula ou se aproveitam dela para alargar o seu curriculum político; ou como o Professor Maltez escreve no já citado blogue “…Interessa muito mais denunciar o ambiente de conúbio entre a partidocracia, as universidades ditas privadas e os financiadores das instalações das mesmas (…) chamando para docentes deputados e partidocratas, ansiosos por um cartão de visitas que lhes desse o título de professores do ensino superior”.
Mas será que também não é assim nas Universidades ditas não privadas? Não haverá também nestas “aquilo que em português corrente se chama cunha institucional”?
A Uni está em vias de ser encerrada.
E será a única?
Já terão os ilustres decisores políticos portugueses ponderado bem os efeitos do “Processo Bolonha” nas Universidades portuguesas, em geral, e nas privadas, em particular, do modelo único de ensino na Europa?

Artigo de opinião publicado na coluna do

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