26 novembro 2006

Ruanda e França em rompimento

Há dias escrevi aqui um apontamento onde alertava para as preocupações que poderiam derrapar as relações franco-ruandesas, devido em grande parte ao eventual tomada de posição dos militares franceses em não anular ou mesmo pactuar face ao etno-genocínio ruandês.
Na sequência desse processo um juiz francês, Jean-Louis Bruguiere, terá afirmado que só a Frente Patriótica Ruandesa (RPF), actualmente no poder, tinha mísseis capazes de abater o avião onde seguia o então líder radical huto e presidente do Ruanda, Juvenal Habyarimana, em 1994. Segundo afirma aquele juiz francês terá provas de que terá sido Paul Kagame, actual presidente do Ruanda, a ordenar o referido assassinato, episódio que levou radicais hutus a assassinarem cerca de 800 mil ruandeses, a maioria da etnia tutsi.
Ora como Kagame goza de imunidade, devido ao seu actual estatuto, o citado juiz propôs que o mesmo fosse investigado pelo Tribunal Internacional para o Ruanda enquanto, simultaneamente, emitia mandados de captura contra 9 colaboradores do presidente ruandês.
Tal atitude francófona levou o Ruanda a expulsar o embaixador de França do país e a romper relações diplomáticas com Paris.
Os Estados são livres de tomar as iniciativas que considerarem mais correctas e oportunas para a defesa dos seus interesses. Não esqueçamos que os Estado não têm amigos mas interesses a defender.
Todavia, se Kagame nada tem a esconder nem a temer e como tem se mostrado como paladino da defesa da verdade no que concerne ao etno-genocídio ruandês não se vislumbra porque ficou melindrado por ser investigado.
Quem não deve não teme.
Por outro lado, foram os ruandeses que despoletaram esta situação quando, bem ou mal, está um Tribunal francês a julgar esse processo, acusaram os militares franceses de pactuarem com o citado e ignóbil etno-genocídio que, ainda hoje, continua a fazer vítimas quer entre os que mais o sentiram quer entre aqueles que, directa ou indirectamente nele participaram. O Tribunal Marcial do Ruanda condenou um antigo comandante do Exército ruandês, o general Laurent Munyakazi, à prisão perpétua por actos de genocídio e crimes contra a humanidade e o bispo Wenceslas Munyeshyaka, actualmente refugiado em França, à prisão perpétua por participação em actos e cumplicidade no etno-genocídio.
Por isso, e como quem não deve, não teme, não se entende esta tão radical decisão de Kigali face a Paris.
Ou será que, pelo contrário, os telhados de vidro são tão finos que o melhor é atirar com os franco-atiradores para o mais longe possível. Não vá alguma pedra, mais certeira, perfurar a carapaça da virtude…

1 comentário:

Anónimo disse...

Wenceslas Munyeshyaka : Un curieux homme d'église

http://www.dailymotion.com/video/xshxs_rwanda-munyeshyaka-un-curieux-homme