26 novembro 2005

Casa de Angola, que eleições?

As eleições que deveriam ter lugar hoje não aconteceram. Foram adiadas – leia-se degredadas – para o próximo dia 15 de Dezembro.
A Lista B, desde há um tempo a esta parte que queria esta situação.
Invocava não ter tido as mesmas condições que a Lista A de preparar a sua mensagem – leia-se enviar os seus opúsculos – aos potenciais eleitores. A principal razão invocada foi a Direcção não ter facilitado o acesso às fichas de sócios da Casa de Angola, quer quanto às suas moradas, quer, espante-se!!! à sua condição de quotização regularizada, ou seja, e foi isso que claramente pediram, saber quais os sócios que tinham quotas em dívida e os que não o tinham. Que eu saiba acesso a informações pessoais só com autorização dos próprios e eu não fui consultado quanto à mesma.
Não está em causa o seu adiamento. Quem não deve, não teme. Não está em jogo uma guerra mas tão só uma disputa eleitoral; onde haverá vencedores e não vencedores (vencidos só nas guerras). E eu reconheço que ganhar na situação em que, claramente, iríamos ganhar não me seduzia nem seduz qualquer pessoa de bem.
Inconcebível que uma televisão portuguesa, que não esteve no local, ao contrário da RTP que esteve todo o tempo até ao fim do debate, ter feito afirmações incorrectas, nomeadamente da Lista A ser uma lista da UNITA quando lá só está um membro claramente deste partido e em lugar de menor destaque; ora os maiores apoiantes são membros activos e predominantes do MPLA. Mas a Lista A é uma lista de abrangência e isso parece doer a muita gente. Lamentável.
Mas neste caso não houve vencedores e claramente dois derrotados: a Casa de Angola e António Cardoso.
A primeira porque viu os seus problemas continuar a ser adiados. E não só. Porque quer queiram alguns quer não aceitem, é a Casa de Angola, de Lisboa, que é a mais visível. Talvez não seja a mais operativa. Mas das outras pouco ou nada conheço, salvo aquilo que, esporadicamente, se fala. Daí que preconizo a criação de uma Federação aglutinadora das Casas de Angola em Portugal, ou Lisboa, pela sua geocentricidade assuma e concentre titularidade das Casas de Angola em Portugal.
António Cardoso, que, perante a sanzalada – como alguém disse e muito bem (peço desculpa de não citar o nome devido aos seus compromissos sócio-profissionais) – que ocorreu durante um largo período, tentou, por fim, e fazendo valer a sua condição de Mais Velho, serenar os ânimos. O que se via era um perfeito escarcéu onde ninguém, repito NINGUÉM, saiu incólume.
Se há alguém que, politicamente, está nos antípodas de António Cardoso, esse serei eu. Mas António Cardoso, um homem de pequena estatura, mostrou uma grandeza de Homem Grande. Soube transmitir sábias e sensatas palavras mas que, na minha perspectiva, não foram bem assimiladas. Principalmente a sua primeira e liminar frase. E quem conhece o poeta sabe como ele está e saberá como ele se encontra; por respeito nada mais adiantarei.
Ora António Cardoso conseguiu aquilo que poucos ou nenhum ainda tinha conseguido: calar a turba. Criticou asperamente a Lista B por não saber fazer o seu trabalho de casa; chamou-lhes claramente Burros. Criticou a Lista A porque lhe pareceu que foram espertos demais (não concordo mas aceito a crítica). Mas acima de tudo criticou a falta de civismo e a inoperância que estávamos a demonstrar, nomeadamente não conseguirmos transmitir uma capacidade democrática de aceitar o voto.
E essa foi a sensação com que fiquei. Derrotámos um Homem que queria, clara e inequivocamente, votar.
E ao adiarmos as eleições poderemos ter-lhe tirado esse último prazer.
Para mim foi o maior perdedor. E todos nós teremos contribuído para isso. Lamento pelo Homem.

Adenda: Ainda sobre esta matéria a Manchete do Notícias Lusófonas: "Bagunçada total faz adiar eleições na Casa de Angola"; Lamentável a imagem que transmitimos para o exterior.
Lamentável, também, que a RDP África, sem que tenha consultado os principais responsáveis da Lista A, tenha, na manhã da votação afirmado que as eleições tinham sido adiadas. Quem deu essa informação e com que legitimidade. Que eu saiba a demissionária Mesa da Assembleia não foi consultada e o demissionário presidente não forma, por si só, a Mesa.
Tenho a certeza que quer a Cidade Alta quer o antigo cinema Restauradores não gostarão de saber como nos comportamos e que imagem retransmitimos para o exterior. Uma vez mais, LAMENTÁVEL.

Sem comentários: