13 junho 2005

G8 perdoa dívida aos "pobres"

A reunião preparatória do G8 (grupo dos sete países mais industrializados, acompanhados da Rússia) que ocorre este fim-de-semana, prepara num perdão total da dívida de 18 países afro-latino-americanos num montante que ascende a cerca de 40 mil milhões de euros, que deverá ser sancionado na reunião de 6 e 7 de Julho.
São dívidas acobertadas pelo BAD, FMI e Banco Mundial
Os 18 países, Benin, Burkina Faso, Etiópia, Gana, Madagáscar, Mali, Mauritânia, Moçambique Níger, Ruanda, Senegal, Tanzânia, Uganda e Zâmbia, no continente africano, e os latino-americanos Bolívia, Guiana, Honduras e Nicarágua, considerados dos mais pobres do Mundo, só deverão obter o referido perdão devido a um acordo histórico entre britânicos (os principais defensores desse perdão, nomeadamente o chanceler do Tesouro inglês, Gordon Brown, preconizador de um plano Marshall para África) e os norte-americanos.
E porque só estes 18 quando, se em todo o Mundo, existem cerca de 62 países a necessitarem de um perdão total, ou quase, da sua dívida, alguns dos quais, com mais razões – se as razões, são as apontadas - para esse perdão.
E quais são as razões?
Muito simples. O perdão assenta num parâmetro que tem tanto de interessante, quanto de intrigante, na cena internacional: ou seja, os países obrigam-se a terem um programa de combate à corrupção e estarem bem encaminhados para uma democracia tipicamente ocidental – no pressuposto que a Ciência Política já tenham caracterizado algum outro tipo de Democracia que não seja aquela que está tipificada nas correntes heleno-latinas: Demo (Povo) Cracia (Poder).
Ora, se Moçambique, Gana, Senegal e Tanzânia apresentam planos e condições para cumprirem os requisitos anglo-americanos – mais destes que daqueles – já os restantes deixam muitas dúvidas quanto à exequibilidade do programa; e isto se o tiverem.
Mauritânia, é um dos mais corruptos e autocráticos Estados africanos; Bolívia, na América do Sul, está em ebulição, tendo o seu presidente sido obrigado a demitir-se por corrupção e apetência para o poder, com os militares na berlinda a pedirem aos políticos uma “trégua” e não provocarem “suicídio nacional”; Etiópia, Ruanda, Níger e Uganda, no continente africano, são alguns dos países onde a corrupção é clara e o poder, na prática, detido pelas forças castrenses.
Além de tudo mais, já se fala que numa próxima fase serão mais alguns Estados a beneficiarem deste perdão. Entre eles, Guiné-Bissau, Chade, Camarões, Costa do Marfim, Malawi e, paradoxos dos paradoxos – ou, uma vez mais, talvez não – a República Democrática do Congo e o Iémen.
E depois que tipo de dívida vai ser anulada?
Só a pública ou também a privada? E na pública, só a soberana ou inclui a das empresas públicas? E os juros da dívidas. Também estão contemplados no perdão?
E o que acontecerá a dívidas que embora não pertencentes aos países do G8 estão, também, sob “jurisdição” daqueles três Instituições.
Ou me engano muito, ou Portugal começa a ter a orelhas – e as finanças públicas - a arder por causa da pequena dívida de cerca de 2,5 mil milhões de euros de Cahora Bassa.
E quem irá pagar esse eventual bónus. Não serão só, por certo, os portugueses mas todos aqueles que pagam os seus impostos: migrantes, legalizados, ou não, incluídos.
Vamos ficar para ver.


Feito em 11 de Junho de 2005

1 comentário:

Anónimo disse...

Amigo Eugênio,
Perdoe-me o desabafo. Que o G8 se foda. Gostaria de ver os países integrantes do "clube G8" do outro lado do muro. Onde estão os pobres.
Sou cidadã brasileira e sei o que é penar, "apertar o cinto", como chamam aqui, para saldar a dívida externa do Brasil.
Desculpe a minha ignorância, caso o FMI, não tenha vínculos com o G8.
Mas o que sempre vi foram esses americanos de merda emprestar dinheiro e cobrar juros que o povo brasileiro pagou com trabalho, sofrimento, mortes e muitas dores.
Os milhões ou bilhões de dólares que saíram daqui deixaram o povo sem direito a saúde, educação, habitação e alimentação. Condições básicas para qualquer ser humano viver com dignidade.
Se falarem...ah...o governo brasileiro fazia mal uso do empréstimo. Mantenho a minha opinião. Fodam-se todos os presidentes brasileiros que fizeram acordos. Quem paga até hoje é o povo e continuamos apertando o cinto. E temo pelas eleições de 2006. Só de pensar que o pústula do FHC e sua corja pode voltar a governar o Brasil causa-me arrepios. Pior com ele, melhor sem ele. Sociólogo de bosta que governou durante 8 anos, viajando pra receber homenagens e fazer política de gaveta e, como se não bastasse sucateou as estatais que davam lucro, vendendo aos estrangeiros a preço de banana.
Vivo num país pobre e sem direito ao perdão.